A doce e letal herança que recebo de Rimbaud
Só Rimbaud me entende. Dos poemas que faço aos caminhos que traço até o âmago da questão. O ponto de conforto, um ponto de equilíbrio, de intersecção. Um ponto que afirme, não interrogue.
Só Rimbaud entende esse devaneio, essa necessidade, esse desejo pintado em uma janela aberta, um papel em branco, a insensatez traçada no canto do meu riso e os gritos que implodo entre desejar e proferir.
Utilizo-me dos símbolos de Rimbaud para explicar a mim mesma o que é isso. Esse peso, esse doce, esse embrulho que Carrego Comigo como um presente ou um fardo ( -Dionísio?), uma brincadeira sem graça, uma piada que nunca existirá, um joguete sem regras - não obstante com vítimas.
Herdei do poeta esse ímpeto sensorial, essa confusão - meio embriaguez, meio figura de linguagem. Herdei sua escrita nervosa e incontida, cansada porém esperançosa, esse jeito infantil de falar sobre os amores que são maiores que a minha capacidade de entorpecimento.
Contudo, eu atiraria em Verlaine, com todo o meu amor e despojo, com meu colo nu gritando em um desejo mais febril que a dor em teu braço. O amor tem dessas coisas, e eu as herdei de Rimbaud.
A incrível capacidade de ruir a estrutura mais sólida e presente, com um toque, uma palavra, uma interjeição. O hábito de bagunçar todas as coisas obssessivamente categorizadas, o prazer de desfigurar as mais belas faces disto tudo. O ardor, a agressão, o rompante, a lubricidade... Segredos meus que nunca vou contar, desejos inexprimíveis (todos anotados!), as vertigens que fixei, essa intensidade, essa confluência, essa suave mania de dar cor às vogais para colorir esse dia cinza - quase londrino - e não deixar que se faça noite em mim.
É tudo meu. São todas as heranças que recebo e repasso (assim como ele,) ao meu bel-prazer.