Pródiga

Eu não queria voltar a escrever. Só pra não escrever algo que ofendesse. Aos outros. Meu ego. Só pra não dar o gostinho. À reflexão. É melhor não pensar. Mais fácil. Só viver. Mas escrever também é vida. Saliva que palpita dentre os dedos. Que pedem. Que clamam. Olhos ao infinito. As nuvens me chamam. Venha, ser a flor tão vistosa. Venha, ser jovem e idosa. Ser o que quiser. Como quiser. Quando quiser. Ser menina e mulher. Rimar. Ficar. Ir-se. Debruçar-se. Chorar. De alegria. De tristeza. Felicidade. Incerteza. Eu juro que não queria voltar a escrever. Não agora. Em que vivia mais. Em que chorava menos. Em que pensava menos. E talvez sorria menos. É bom ser meio robô às vezes. Mecânico. Assim. Sem muito que sentir. Mais dinâmico. E na verdade, mentir. Eu sou a filha pródiga da prosa. Brigo com a poesia. Reluto. Tiro-a de mim. Nem que à força. Somente por deixar de pensar. E querer. Eu não quero você poesia, estou vivendo bem. Assim, na pressa, na inércia. Esqueci-me de você. E hoje, lembrei-me. Por acaso. E por acaso enchi a folha de ilusão. Sei lá. Fiz as pazes, assim, tão rápido, sem conseguir dizer não. Já chega! Eu me nego! Renego e repudio você, prosa. Companheira. Violenta. Arrebatadora. Mas agora já escrevi mesmo. Que mal tem? Pobre daquele que se alimenta do próprio desdém.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 10/04/2011
Código do texto: T2901394