Um sorriso de criança.

A infâmia nunca surpreende a verdade, que tão absoluta quanto o aceno da morte não desiste de vencer o tempo. A ingratidão reveza sua função de carrasca deixando marcas em todas as lembranças junto com a indiferença, que trabalha nas horas vagas tentando nunca deixar as feridas se fecharem, resplandece na manhã como o sol que acorda expulsando as estrelas e trazendo um bom dia da tristeza direto para o centro da esperança em estado terminal. As horas passam na companhia do desespero, forte como o carinho dos braços que já se foram.

As novidades do passado brincam com o tédio, fazendo um coração em agonia gargalhar em sangue e sufocar o sentimento ausente, na respiração tímida de um pulmão cansado que pranteia o ar puro de uma floresta abandonada que ressurge a cada chuva e cintilando em lágrimas, floresce um futuro sepultado na terra.

Árida como uma boca seca ao relento, onde nenhum lábio toca seus desejos a vida renasce em cada sorriso sem sentido de uma criança, tão bêbada de felicidade com a presença do carinho, o momento se edifica como um sopro leve sem destino e recai sobre mim com o mesmo efeito de uma garrafa de vinho.

O despertar catastrófico da tarde em descanso resulta em lágrimas repletas de solidão, assim como o amor que transforma uma realidade para evitar a própria realidade, perdendo a singularidade de corações em desencanto nos caminhos do medo que sufoca as vidas que caminham juntas e acorrentadas.

Sozinho no tempo, o rebelde da estrada devasta na Nova Guerra de Bukowski, observa a matéria como coisa viva que sorri das suas piadas ouvidas nos sonhos que nunca são lembrados, um grito tardio balança as estrelas e uma chuva de luzes desaba do céu, iluminando os destinos que o próprio futuro desconhece e enquanto os dias passam, repito um pretérito quase novo, como se fosse um corpo que volta do coma depois de falar com deus.