[Figurativamente Simples]

[Velhos textos inéditos...]

Sou simples, figurativamente simples,

e tenho [muito] receio de revolver

as profundezas alheias:

nunca se sabe o que surgirá...

Assim, os meus olhos são surdos:

espreito silêncios, e faço ouvidos moucos

às não-falas dos homens!

Já fui mais ousado a esse respeito;

isto acontecia quando eu me julgava

um portador de alguma verdade,

ou, no mínimo, de uma mensagem muito especial,

aprendida escutando os ocos deste mundo,

[... ou olhando urubus debicando uma carniça?].

Sim, uma mensagem especialmente destinada

a cavoucar e a revirar ao sol as raízes escuras,

a desmanchar o torrão seco das certezas!

Pois bem: desisti dessa sondagem!

Escutando-me, soube-me como um nada,

experimentei-me em ser nada, uma coisica à-toa!

Vi então que eu não podia perscrutar o outro,

descobri que o outro está sempre mais além,

mais distante do que eu imaginava...

No entanto, busco ainda [e sempre] o outro,

pois jamais sou o que cuido ser

[se não sei o que sou, nada importa...]

se à minha volta, alguém não mo disser:

sou mesmo é nada... nem sou contável!

[Penas do Desterro, 14 de outubro de 1998]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 06/04/2011
Reeditado em 06/04/2011
Código do texto: T2892699
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