[Figurativamente Simples]
[Velhos textos inéditos...]
Sou simples, figurativamente simples,
e tenho [muito] receio de revolver
as profundezas alheias:
nunca se sabe o que surgirá...
Assim, os meus olhos são surdos:
espreito silêncios, e faço ouvidos moucos
às não-falas dos homens!
Já fui mais ousado a esse respeito;
isto acontecia quando eu me julgava
um portador de alguma verdade,
ou, no mínimo, de uma mensagem muito especial,
aprendida escutando os ocos deste mundo,
[... ou olhando urubus debicando uma carniça?].
Sim, uma mensagem especialmente destinada
a cavoucar e a revirar ao sol as raízes escuras,
a desmanchar o torrão seco das certezas!
Pois bem: desisti dessa sondagem!
Escutando-me, soube-me como um nada,
experimentei-me em ser nada, uma coisica à-toa!
Vi então que eu não podia perscrutar o outro,
descobri que o outro está sempre mais além,
mais distante do que eu imaginava...
No entanto, busco ainda [e sempre] o outro,
pois jamais sou o que cuido ser
[se não sei o que sou, nada importa...]
se à minha volta, alguém não mo disser:
sou mesmo é nada... nem sou contável!
[Penas do Desterro, 14 de outubro de 1998]