A CIGARRA.
Chagaspires.
Os fundos do quintal da casa da Rua Pierre Collier em Camaragibe, Vila da Fábrica, descia íngreme até próximo a gruta de Lourdes.
Havia uma variedade de fruteiras que faziam parte do terreno e pertenciam a cada família moradora das casas da vila de operários, cedidas pela Companhia Industrial Pernambucana, para os que ali trabalhavam morarem.
Uma espécie de pomar com sabores variados tomavam conta de cada quintal que eram divididos por papoulas que mais enfeitavam do que realmente dividiam.
Mangueiras das mais variadas, entre elas, mangas rosa, espada, sapatinho; jaqueiras enormes, goiabeiras, fruta-pão, cajueiros, jambo do Pará, jenipapeiro, e tantas outras que nem me lembro mais.
Os quintais eram o mundo encantado da garotada.
As mais variadas brincadeiras eram inventadas e assim passávamos os dias que eram maravilhosos e imaginativos.
Um dos meus passatempos preferidos era ouvir as cigarras a cantar.
Com seu canto diferente que começava em acordes intermitentes, logo passando a um sibilar constante e estridente, as cigarras emprestavam ao ambiente um ar de fantasia e languidez que enlevavam a alma e nos transportavam para um mundo irreal.
O termo cigarra é dado aos insetos homópteros da família dos cicadídeos.
Segundo pesquisadores existem mais de 1500 espécimes conhecidas; apenas a Carineta fasciculata é reconhecida como espécime brasileira.
O cântico estridente da cigarra é entoado pela cigarra macho que com os seu aparelho estriduratório situado ao lado do abdome, emite o som tão peculiar a esse inseto, que cativa sua fêmea através do encanto musical.
Não sendo bem controlado poderá vir a ser uma praga para as fruteiras e lavouras.
A cigarra tem o seguinte ciclo de vida: Ovo—Ninfa—Inseto adulto.
As fêmeas põem seus ovos e morrem em seguida.
Os ovos são postos em árvores hospedeiras e logo eclodem, as ninfas caem no chão e adentram a terra, e lá vivem entre um a dezessete anos dependendo da espécie, se alimentando das seivas das raízes das árvores.
Logo após elas cavam túneis e sobem nas árvores passando por uma transformação chamada ecdise e ai tornam-se adultas e prontas para o acasalamento que ocorre nas épocas quentes do ano variando de conformidade com a região geográfica.
Esse canto tão conhecido e estridente são únicos dessa variedade de insetos.
Quando volto ao meu Camaragibe querido, procuro visitar um parente que ainda mora por lá e vez por outra ouço as cigarras a cantar, e de olhos fechados retorno aos tempos áureos da minha meninice.