Não há por que se importar comigo
Casca grossa por fora e por dentro
Nenhum sentimento digno de zelo
Nenhum valor, emoção que valha
Não posso ser ferido, não sinto dor
Não sucumbo, não sangro, não morro
Porque tem muita tristeza no mundo
E a tristeza é privilégio dos vivos
Como a solidão é dos crentes
Este morto não precisa de esmero
Para viver, vestir, cuidar, comer
Não precisa de tesouros ilusórios
Com que encher o próprio esquife
Não precisa de ser mais que algo
Algo um pouco mais do que pode ser
Fico muito grato com a esmola
Esse olhar e esse sorriso fácil
Essa mão estendida para mim
Mas o zoológico está fechado
E passa já da hora de dormir
Até os monstros tem sono
Guarde suas parcas migalhas
Os restos do que não precisam
Que eu nem preciso ser indivíduo
Sou qualquer na multidão
Reles ralé dos insignificantes
Não preciso de muita atenção
Guarde sua distração para quem ame
E divirta-se com quem tanto odeia
Não preciso da palavra, do verso
Não preciso de um poema
Nem de poesia eu preciso
Não preciso respirar esse ar
Eu sequer preciso imaginar
Guarde seus devaneios
Suas loucuras todas
Guarde sua santidade
Sua humanidade tão humana
Sua vida cheia de graça
Que tudo isto não cabe no meu inferno
Um burburinho no lá fora
Ouço gritos de desespero
E preciso de silêncio
Porque vivo atolado de silêncio
Não preciso mais nem de amor
Já vivi tanto sem ele
Que se derem um pouco só
Eu morro...
Mas por favor
Tratem melhor do que a mim
Aquele cachorro de rua
Que ele não sabe o que faz
Cuidem de seus vermes
De suas doenças, seus virus
Cuidem das baratas, dos ratos
De seus pesadelos, suas dores
De suas crenças doenças
De seus devaneios pelo meio
A um passo de nenhuma verdade
Cuidem dessa tal felicidade
Máscara em moda hoje em dia
Cuidem de sua depressão
Com enlevo e dedicação
Cuidem dessa desolação
Desse medo de tudo
O medo, cuidem de o ter
Cuidem de viver insanos
Distraídos de que viver
É só morrer aos poucos
Esqueçam-me o nome
O rosto e cada palavra
A memória do que foi dito
Por que o que não se disse
Foi só o que se fez...
Casca grossa por fora e por dentro
Nenhum sentimento digno de zelo
Nenhum valor, emoção que valha
Não posso ser ferido, não sinto dor
Não sucumbo, não sangro, não morro
Porque tem muita tristeza no mundo
E a tristeza é privilégio dos vivos
Como a solidão é dos crentes
Este morto não precisa de esmero
Para viver, vestir, cuidar, comer
Não precisa de tesouros ilusórios
Com que encher o próprio esquife
Não precisa de ser mais que algo
Algo um pouco mais do que pode ser
Fico muito grato com a esmola
Esse olhar e esse sorriso fácil
Essa mão estendida para mim
Mas o zoológico está fechado
E passa já da hora de dormir
Até os monstros tem sono
Guarde suas parcas migalhas
Os restos do que não precisam
Que eu nem preciso ser indivíduo
Sou qualquer na multidão
Reles ralé dos insignificantes
Não preciso de muita atenção
Guarde sua distração para quem ame
E divirta-se com quem tanto odeia
Não preciso da palavra, do verso
Não preciso de um poema
Nem de poesia eu preciso
Não preciso respirar esse ar
Eu sequer preciso imaginar
Guarde seus devaneios
Suas loucuras todas
Guarde sua santidade
Sua humanidade tão humana
Sua vida cheia de graça
Que tudo isto não cabe no meu inferno
Um burburinho no lá fora
Ouço gritos de desespero
E preciso de silêncio
Porque vivo atolado de silêncio
Não preciso mais nem de amor
Já vivi tanto sem ele
Que se derem um pouco só
Eu morro...
Mas por favor
Tratem melhor do que a mim
Aquele cachorro de rua
Que ele não sabe o que faz
Cuidem de seus vermes
De suas doenças, seus virus
Cuidem das baratas, dos ratos
De seus pesadelos, suas dores
De suas crenças doenças
De seus devaneios pelo meio
A um passo de nenhuma verdade
Cuidem dessa tal felicidade
Máscara em moda hoje em dia
Cuidem de sua depressão
Com enlevo e dedicação
Cuidem dessa desolação
Desse medo de tudo
O medo, cuidem de o ter
Cuidem de viver insanos
Distraídos de que viver
É só morrer aos poucos
Esqueçam-me o nome
O rosto e cada palavra
A memória do que foi dito
Por que o que não se disse
Foi só o que se fez...