Pensar na morte
Quantos pensadores já refletiram sobre a finitude? Com certeza uma multidão deles. E não só os pensadores – aqui me refiro aos filósofos, pois todo ser humano é um pensador, mas quero apenas ressaltar uma classe que tem por hobby as idéias – mas toda a raça humana pensa no fim. Cantores, poetas, operários, prostitutas, advogados, comerciantes, donas-de-casa, militares, vagabundos, palhaços, trapezistas, etc. Certamente pensar na morte é algo que toda a humanidade faz, ou seja, é universal. Pensar na morte é algo humano, demasiadamente, humano. E desse pensar, acredita este tolo escrevinhador, surge os grandes conceitos teológicos.
Bem, não pensem que eu queira escrever um ensaio, não. Que eu queira ressuscitar minha veia teológica, longe disso. Para ser sincero eu nem queria e nem gosto de escrever sobre esta senhora. Nem mesmo Hollywood conseguiria me fazer voltar atrás, com sua morte vestida de Brad. Até por que, sou viciado no sexo oposto. Eu apenas queria prosear sobre algo que acontece no espírito humano a partir da despedida fatal. Bem, vai lá, eis a pergunta que mora no inconsciente dostoievskiano da humanidade: O que me faz realmente estar vivo, já que sei que realmente um dia jamais estarei vivo?
Eu sei, eu sei. Para esta pergunta tem uma infinidade de respostas. Mas sei que cada um de nós tem aquela coisa que realmente fortalece nossa existência. O grande Camus talvez diria que Paris, as cafeterias ao longo dos Campos Elíseos, os livros, o sol, a lua, as mulheres, o fumo, a bebida, a música, etc. Poderia ver Albert defendendo infinitos motivos para querer estar vivo, ainda que absurdo. Mas o que realmente fazia, o autor de “A Peste”, querer estar vivo, eram seus amigos. Certa vez ele escrevera: de que vale toda esta formidável Paris se não encontro aqueles que comigo costumavam andar, vadiar, viver comigo? Camus só percebeu o que realmente o fazia querer estar vivo durante a Segunda Grande Guerra.
Poderia citar vários outros exemplos. Como Beatriz de Dante. Carolina de Machado. A rua do Catete de Rubem Braga. O Leblon de Ruy. A Nascimento da Silva de Tom. O mar de Drummond. A América de Colombo. Etc, etc., etc., ...
Mas a resposta que mais me comoveu, foi a do Castelo. Castelo é de origem Paraense. Mas chegou ao Rio de Janeiro muito novo, tinha por volta de 15 anos. Hoje o velho Castelo tem 65 anos. Castelo já é carioca há 50 anos. Ele disse-me certa vez que quando se conhece o Rio, morrer fica chato. E assim como Castelo, de tudo aquilo que me faz querer viver, podem ter certeza que esta terra de Machado de Assis tem uma parcela imensa e vital para a minha existência.