MARIO DE SÁ-CARNEIRO
Lisboa. Acabei de passar pela Rua da Conceição ainda iluminada pelo Portal da Rua Augusta. Uma sombra alongada buscou na calçada distante a placa indicada pelo poeta João Videira Santos. Uma semente da primavera portuguesa desabrochada num maio distante. Sinto os passos apressados de Mario de Sá-Carneiro correndo a vida com versos labirínticos, um arrepio, um silêncio profundo de buscas e encontros... Reticente, flutuo até cair nos solos outonais de quem prepara a colheita da despedida. Vindima tardia. Contraio as palavras para parir as lágrimas, sustento o olhar para me encontrar no horizonte anoitecido. Guardarei os frutos ressecados, o tinto gosto, as folhas douradas enfileiradas na faixa da vida para me embriagar com o vinho decantado nos tonéis da poesia.