Doze
Disseram-me que já houve cântico mais profundo vindo de mim... Deve ter havido. Já fui outros, vários.
O formato dos olhos é o mesmo: a cor mudou.
Costumavam ser mais esverdeados, ultimamente andam assim: cor de amargo...
Mas é que quando eu tinha meus doze anos eu era poeta.
Já se foi uma década no meu carteado.
Minhas mãos pingaram tanta letra.
Tanto amor.
Tanta estória.
Tanto canto.
Tanto conto...
Eu já não sou mais os mesmos, e nem sou eu... Tampouco sei se ainda sou poeta...
Provavelmente minha poesia mudou de cor, mudou o tom, mudou a forma.
Eu mesmo mudei inteiro, e vou continuar modificando, metamorfose...
Metade eu, metade o outro...
Eles serão, uma sereia?!
Não quero definições, dispenso os finalmentes.
Canso-me rápido de “para-sempres”, meu eternamente é nunca mais; sempre pra mim é pouco... Não há estável que seja tão fascinante quando as ondas que quebram na praia e se formam de novo...
Novo de novo.
Doze de novo...
Gosto do meu solo firme, mas sei que o mundo é maior que eu...
Quero ser grande pra caber nele!
Não perdi minha poesia porque ainda posso senti-la lilás, lírio e lavanda, pulsando alguma essência que se eu quisesse decodificar poderia, mas não quero.
Dispenso definições.
Quebro muros, contorno valas, gosto do calor do sol, mas acho linda a música da chuva... Quando quebro na praia me formo de novo:
Metade eu, metade o outro...