Perdição

Era sempre do mesmo jeito, a mesma luz invadia, a mesma brisa eu sentia e cobria meu corpo no calor, no frio eu me descobria... havia uma contradição que escapava nos gestos, que sinalizava a intenção... um não sorridente que eu não segurava, derrapava na língua, morria nos dentes...

Era sempre um pouco de tudo, um medo que formigava, um desejo de ir em frente, uma coragem de estrada, mas eu tinha umas coisas guardadas, umas cartas de antigamente, algumas fotografias, uns pensamentos na mente, uma música insistente, um sono no meio do dia...

E vinha uma coisa vadia, uma preguiça de praia, um cheiro de sol na pele, um tal de querer fazer nada, os olhos ardiam nessa água e eu mergulhava cada vez mais fundo, tocava bem dentro do outro lado desse mundo de conchas e segredos, de navegar à deriva nos ventos, furar as ondas do medo, essa coisa que arrepia, que inebria... que toma as noites e esvazia os dias...

Era um arrasto no tempo e eu não tinha argumento quando pensava na sua mão esfregando na barba a aflição, falando umas coisas que eu bem sabia seriam a minha perdição...

E uma voz se ouvia no sopro do coração, na taquicardia daquilo que emergia desse mar de inquietação...