O que Antoine não sabia - Parte 4
Antoine passou vinte anos longe do pai.
Quando sua mãe resolveu vir para o sul, só passava na sua cabeça sair do mundo, seja ele qual fosse.
Feito imã que puxa com todos os braços, alguma coisa lhe dizia no ouvido para seguir em frente sem olhar para trás.
Não foi fácil para aquela mulher seguir este rumo, mesmo que isso fosse a única coisa certa que fez em toda vida.
Como cigana que não consegue pisar firme em nenhum chão, fez sua trouxa, pegou a filha pequena e foi tentar entender o que as estrelas teimavam em lhe dizer.
Alguma força maior saltava de seus poros como feridas que ficarão esperando a benção dos ventos para sempre.
E serão justamente elas que passarão por cima de tantas armadilhas que serão alinhadas nos seus atalhos, que embebedarão o seu sangue até a morte.
Nesta busca por novo ar, novo fôlego, novo anzol, novo gozo.
Antoine foi cerzindo cada nova ruga que emergia das suas tantas almas.
Estas mesmas almas que falam mil línguas, muitas delas nem faladas até então. E que certamente nunca serão.
Tantas almas que darão câimbra nos mares, colocando no chão todo medo que ousar atacar a sua merenda.
Antoine queria muito saber se o coração de seu pai ainda estava a postos para receber nova dor, novo unguento, novo lamento, novo teco de paixão.
Também queria muito sentir seu cheiro, mesmo que exalasse de uma fria lápide num porta-mortos qualquer.
Seu pai talvez nem seja aquele que nos seus sonhos vinha voando num tapete mágico e pousava sorrindo na beirada das cama só pra dar um boa noite.
E que tantas vezes deu adeus para sempre. Para sempre.
(continua)
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