Prosoética Minimalista
Meu verso é minha consolação e cachaça. A sensação de saber que existo sem que exista salvação, embora um céu de lua cheia me agrade sempre. É sorriso sem boca - gato de Alice - suspenso no atelier da alma. Só corro risco de vida: a morte é abscisão.
Tolice o que faço, exceto se sou poeta. O que sei de mim não é mais do que os outros não sabem ou pensam saber, e o mundo sequer se preocupa com ambos. Vamos assim, paralelos, confiantes no infinito. Não busco caminhos e tampouco os traço.
As ruas, olho com estranheza. Sei da avareza do meu olhar que insiste em ser cego. Duvido que não sejam felizes todos os que nunca tropeçaram na própria sombra. O que me assombra são os delitos que não cometi, pois os postos em cena há muito me consumiram. Depois sumiram como somem as estrelas iludidas pelo sol.
Só olhei a vida de esguelha quando lhe compreendi o sentido: centelha. A dúvida-certeza do fogo é a lógica do gelo, o que não quer dizer nem sim nem não, mas esperança. A esperança nasceu por medo do frio. E do atrito aflito das pedras fez-se o sorriso de Deus. A esperança é a celebração da vida. Nunca mais fui livre, mas dono do meu livre-arbítrio, berço edênico da ironia.
A angústia é minha essência. O cordão em torno ao pescoço do dia. Anoxia. Mas não fosse ela, sequer teria a experiência evolutiva do crânio. Estaria colhendo frutos e não palavras, minha maior dimensão. A palavreira dá frutos de todos os sentidos, incluindo os nenhuns. Ave, Rosa!