028 - A MINHA INVEJA....
Das coisas que me espantam e atiçam o admirar, é o semblante daquelas pessoas que na eminência da morte se comportam com tamanha leveza de espírito, com um ar de vencedor, sem desespero algum, olhando para as suas coisas, para as pessoas conhecidas e desconhecidas e principalmente para aquelas que ama e que com certeza por elas também é amado, assim como a Terra absorve os retalhos últimos de um sol naufragante, ele vai também absorvendo avidamente estas últimas imagens e carinhosamente as vai guardando no fundo da sua alma. Vendavais descomunais a tudo destruir, do corpo e da alma tudo a estremecer, barulhos estonteantes no desconectar do espírito da matéria, neste momento único em que a dor não mais existe, na face desespero algum a gotejar, o que transcende é uma paz desconhecida, mas totalmente confiável que a tudo vai serenando, na simplicidade de um olhar agradecido ele vai se despedindo de tudo e de todos, no mar de dentro o vendaval já amainado, a alma cegamente a flutuar... É o momento da travessia... Ainda assim com a grandiosidade própria de um ser Humano calmamente sorri para o inevitável, e não é um sorriso debochado, muito menos um sorriso medroso e covarde, mas um sorriso com a pureza daqueles que compreendem e aceitam que tudo tem um começo, um meio e um fim. Ah... Desses é que eu tenho inveja.