"Aos nossos muros... um copo d'água!"
E eu só precisava me lembrar de que era capaz. De que em algum momento eu tinha atravessado um outro sonho parecido e que tinha transformado-o em realidade. Eu precisava, necessitava desesperadamente, que contassem, ou melhor, cantassem minhas batalhas ganhas.
Não, não era egocentrismo, nem prepotência. Não era orgulho fútil ferido. Ferida estava eu. Ferida e inoperante diante dos meus sonhos que, pra mim, pareciam tão improváveis e irrealizáveis. As impossibilidades, as batalhas que eu deveria travar. Tudo funcionava tal como um muro. E era esse muro que eu devia escalar ou tentar pular um pouco acima dele para ver uma brecha, ter uma visão ao menos parcial do outro lado, onde meu sonho, meu ponto de chegada mais desejado, se encontrava.
Mas então por que aquele muro parecia tão alto e indestrutível diante de mim? Ele era forte, parecia forte. Mas eu nem sequer tinha ainda tocado-o. Como poderia eu saber? Ele tinha uma cor, uma cor incomum. Não, não era barro. Seria cimento? Concreto?
E ali, sim, ali diante dele eu ainda continuava precisando de alguém. Alguém que me encorajasse a tocá-lo, a entendê-lo e a enfrentá-lo.
Por fim procurei desistir. Não, não desistir do meu muro. Desisti de parar de esperar ser encorajada, de tentar buscar a coragem em outro ser humano. Era eu quem devia me encorajar. Era dentro da minha alma (no fundo corajosa) que eu devia encontrar a coragem. E ela estava ali, tão concreta dentro de mim quanto aquele muro do lado de fora. Eu nem ao menos precisava caminhar até ela. Eu só precisava segurá-la forte, agarrá-la, fazê-la ficar ali presa junto a mim.
E foi com essa coragem que eu peguei firmemente, tal como um copo de água. E joguei. Joguei seu “líquido” diante do muro.
E... Quanta surpresa! Ele se desfez...
Eram apenas muros de papel...