-1- "Vinte e Nove Poemas"

Sobre a água ouço a pele dos barcos como a voz límpida do mar as aves numa linha a tarde longínqua enquanto o o transe último da luz e depois ainda outra linha num percurso último ainda talvez tudo fosse o que é sem mim o mar entra pelo longo areal as casas distantes os vultos que passam quando as sombras se projectam e caiem outras sombras num deslize pela cal dos muros e ouvem-se vozes e haveria sempre alguém sentado a descrever o poente e haveria sempre alguém a falar do amor da sensação feliz das tardes de sol e sempre haveria alguém a falar da morte os plátanos naquele lugar bucólico de um dia onde se tocaram lábios as palavras foram a memória última do adeus e voltamos para viver a narração sem fim de qualquer vida única talvez tudo fosse o que é mais além do outro lado dos olhos.