MILHARAL.

Milharal.

Guel Brasil.

A chuva tinha caído no tempo certo, e o nosso roçado já estava pronto para receber as sementes; desta vez íamos plantar milho, fava e feijão-de-corda. O milho e a fava são plantados na mesma cova. Os dois nascem juntos, mas o milho tem crescimento mais rápido, e a fava por ser trepadeira vai crescendo aos poucos, e se enrola nos pés de milho.

Colhe-se o milho há seu tempo, e ficam as tamboeiras susten- tando os pés de fava que se colhe aos poucos. É, mais o nosso trabalho mal estava começando; no outro dia bem cedinho, com o sol ainda por nascer, eu, pai e mais mãe veia, partimos pro eito a fins de fazer a plantação. Pai ia à frente covejando a terra, e eu mais mãe veia íamos atrás plantando a semente e fechando as covas.

Terminamos de fazer o plantio já no cair da tarde, mas já no traquejo de amanhã bem cedinho, um de nós tinha que tomar conta do roçado por causa dos comedores de semente. Papa-capim, papa-arroz, zabelê, passaro-preto, e a aranquãn do cerrado que era a pior de todas. A aranquãn desenterra e come a semente, principalmente a do milho. E lá estava eu bem cedinho com meu bornal de bolotas de barro secas ao sol, um bom bodoque feito com gancho de arueira e meu cachorro pitoco; meu de comer era uma farofa de bofe de boi frito em gordura de porco. Enquanto isso, meu pai ficou em casa preparando os espantalhos que seriam colocados nos quatro cantos do eito, de formas que balançasse ao sabor dos ventos. Passei o dia tranquilo protegido do sol no nosso ranchinho feito de beira no chão e coberto com folhas de ouricurí; voltei pra casa detardizinha debaixo de uma forte chuva, que com certeza estava caindo na hora certa.

No outro dia, eu e mais meu pai fomos colocar os espantalhos que nos ajudaria a espantar os papa-sementes, e dai por diante era esperar a terra dar o seu fruto tudo a seu tempo.

O milharal nasceu e cresceu viçoso e bonito; junto com ele a fava que aos poucos foi se enrolando sem sufocar os pés de milho. O feijão-de-corda carregou de um jeito que tombou os pés no chão; colhemos o milho, e as tamboeiras ficaram sustentando os pés de fava que a gente foi colhendo aos poucos; aqui é assim, a natureza devolve ao homem trabalhador o fruto do seu trabalho. Se o tempo for chuvo-

so; se não, Deus há de dar providencia.

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Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 27/03/2011
Código do texto: T2873158
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