Todos nós dois
 
Igual àquela gota que não desliza pela vidraça,
por mera falta de uma vontade maior que ficar.
Ficar sendo até secar e não ser mais que um sinal,
uma tristeza cansada de ser tão triste que vagou,
numa estafante escala irregular de tons sobre sons,
desabou numa correnteza que não é além de um sonho.
Ser está sem mérito algum de qualquer reação,
foi muito mais além que ousava a imaginação.
Aquela coisa toda desperdiçada, assim no nada.
Tudo tão lindo, tão livremente abrangente, tudo tão!
Não se quis, nem se deu ao capricho de querer entender.
Nada de muito incrível, fugas dadas a grandiosidades.
Grandiosamente pequeno, sempre será a contradição.
A lágrima teimou em ficar onde nasceu até perder os sentidos.
O riso é daqueles fora de hora, no momento totalmente inusitado.
Pequenos delitos praticados por nós, entre nós.
Nada que não contenha certo sabor de pecado,
um erro de mira envolvendo dois incapacitados para uma agonia.
E para que iria querer um desassossego tão desnecessário,
já que bem perto, aliado a pouca vontade, havia um espaço,
um convidativo vácuo com cara de feriado prolongado?
Escapamos!
Tudo muito simples; bastou-nos não nos envolvermos com a vida.