[Caindo do Mundo]
Donde me vem esta sensação que vai se tornando mais e mais uma certeza, certeza de que estou a despencar do mundo? Agora, tenho um trabalho danado para descobrir o que me interessa! Em princípio, nada... o quase nada me ilude mais.
Sim, por que, se agora tudo que experimento não passa de uma água chilra, se o vinho está aguarentado, se a comida pode até ser jornal molhado e salgado, se a estrada tornou-se mais longa, se o canto dos pássaros perdeu a graça, se ouro das flores se escureceu, então, antes o que me atraía eram mesmo as ilusões... ilusões várias!
E vou caindo, caindo, caindo do mundo, como se rolasse pelas escarpas espinhosas daqueles quadros aterradores em que havia um anjo estendendo a mão salvadora... puxa vida... eu não creio em anjos, deuses... Nada me salva, vou para o escuro do abismo do fim da vida! No marasmo, no tédio de cada dia, eu vou mesmo é caindo do mundo!
[eu já prometi escrever menos... eu sei!]
[Penas do Desterro, 23 de março de 2011]