Rio Guaíba - Teu Pôr do Sol Lento e Triste
Lenta e dolorosa tuas águas se movem e com que peso abstrato elas se chocam com a distante linha do horizonte, absorvendo o céu em aço avermelhado, com a passiva saudosista dos finais de tarde. Rio, lago, pedaço de água aterrada e poluída pelo homem, em que os navegantes se perdem mesmo em tuas ilhas, e em que os barcos avançam tristes e lentos e se somam a ti. O que vem nas tuas vagarosas ondas, além da sujeira do verão passado? É teu passado soprado neste vento de ressaca, vindo da outra margem e invadindo os sobrados, os prédios, os hotéis, as casas saudosistas, as residências judaicas - com grave acento em seu passado glorioso, que desfilava pelas ruas em direção a praia. Tua água mata a sede de nossas lembranças mas navego calmo e contemplativo por toda tua extenção. Acabo no caís do porto não mais alegre, esquecido e habitado por navios fantasmas enrubescidos pelo tempo. E de que serve mais um pôr do sol em tuas águas saudosistas e poluídas, Guaíba rio de um porto outrora mais alegre?
Mas Porto Alegre se reinventa, tuas águas também...