ESPECTROS
Especialmente dedicado a todos que se arvoram do direito de vida e morte
não sabem, todavia, que nada mais são senão espectros, fantasmas errantes
E sem alma e corpo já putrefato, decompõe-se às margens lamacentas do esgoto
que fizeram da sua vida em vida nada considerável.
Desprezíveis!
Desprezíveis é o que são.
Vomitam razões amparados nos quadros matemáticos e gráficos feitos sob encomenda.
Desprezíveis!
Mil vezes ignóbeis desprezíveis.
Arrancam à fome o leite raro e ralo a merenda improtéica.
Superfaturam a nota e anotam os favores devidos e pagáveis num futuro certo.
Desprezíveis!
As chagas à população condenada, falta o hospital e sobram cemitérios.
São senhores da morte, lenta ou instantânea, pouco importa, está posta a solução final.
Suas cabeças ocas qual caule sem seiva, nada pensam senão em roubar, desviar, surrupiar.
São os verdadeiros bandidos
E constroem presídios para os outros suas vítimas, o povo.
E a lei?
Ah, a lei, a prostituta, a disposta no muro da vida codificada.
Seu cafetão?
O industrial, o banqueiro, o senador, menos o lavrador, é gente do povo
Sua a camisa que não tem, mas não pega o que é do outro, isso ele sabe e pratica
E ensina como aprendeu o que do outro não é seu, é trabalhador.
Desprezíveis é o que são
Todos aqueles são sanguessugas do povo que luta
Inventam normas e resoluções e garantem seus privilégios
Trazem no corpo a marca da vileza sua chaga
E se propaga noutros que gera geração de larápios
Desprezíveis vocês e seus herdeiros
E a terra não suportará seu nefando pó
E a lavoura contaminará
Desprezíveis!
Na carne e no pó, é o que são
E o broto?
Apenas espectro do que um dia teve vida.