SEU JEITO SERENO DE SER

Você partiu ainda tão cedo. E no momento da notícia me desesperei. Mas agora, vendo-o neste templo silencioso a nos esperar para as últimas despedidas, tenho certeza de que você está bem.

A presença do seu corpo tão quieto e tranquilo me faz sentir na alma o quanto posso me resignar com a sua partida, porque compreendi que você se fará presente em nossos corações por todos os nossos dias.

Em seus últimos momentos, com tanta simplicidade e tão discretamente, você deixou um facho de luz dourada a todos nós, ensinando-nos tantas coisas importantes sem a menor pretensão. Sua última palavra foi “OBRIGADO”. Bem próprio de você, pois sempre ajudava sem esperar agradecimentos nem louvores. Mas, quando recebia ajuda, jamais esquecia de agradecer sensibilizado.

Você foi diferente enquanto aqui esteve entre nós. Diferente em seu jeito sereno de ser... em seu modo pessoal de pensar. Sempre pacífico... bom... terno... humano. Tão preocupado esteve com o bem-estar dos amigos e companheiros que acabou esquecendo de si mesmo, do seu próprio bem-estar!

Aonde você ia, podia não ser logo notado por ser um simples observador silencioso, sempre inteligentemente quieto. Mas, quando dali saía, deixava um rastro de amizades profundas, de admiradores sinceros encantados com a sua bondade.

Neste mundo você chegou e não se preocupou em caminhar por onde já havia um caminho pronto. Você fez aqui o seu próprio caminho e o deixou pronto para aqueles que o queiram seguir. Uma estrada de retidão, de brio, de suavidade e de amor ao próximo.

Quando soube da doença, sentiu um frio de medo percorrer-lhe o corpo. Sensação desagradável que logo passou para dar lugar a uma grande vontade de lutar com todas as suas forças contra o seu único inimigo – aquele que tão cedo o levaria para longe dos nossos olhos, do nosso convívio material.

Quando confirmado o seu destino, compreendeu essa necessidade, aceitou com muita fé e com admirável controle manteve a consciência, a lucidez. E até o último fio de alento esteve pleno de si mesmo, com sua peculiar serenidade, sua tão pessoal grandeza.

Partiu calmo... tranquilo... sem medo... apesar de todo o sofrimento que o consumia a cada minuto, implacavelmente. Partiu convicto de encontrar um novo lugar onde mais uma vez poderá fazer o seu próprio caminho, com a mesma calma, com a mesma dignidade... e tantas outras qualidades que certamente farão parte eterna de você, porque você é assim por si mesmo: calmo... sereno... digno... bondoso... e puro.

Posso ver agora, não com os olhos, mas com o coração, você do outro lado da vida, assim, com o mesmo semblante suave, o mesmo sorriso amigo que sempre admirei.

Sinto que você nos deixou centelhas da sua paz, porque estamos todos resignados e serenos como você. E, neste momento, tenho mais uma certeza: a de conseguirmos esperar pacientemente pelo nosso reencontro um dia.

(Homenagem ao meu irmão Odilon)

Julieta Bossois
Enviado por Julieta Bossois em 18/03/2011
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