Desabafos de dor sem nome
E se eu te falar que é justamente o fato de não gostar de brincar com os sentimentos dos outros que me impede de fazer isso?
E se eu te disser que pra mim não é tão simples assim renunciar a um sentimento pela incerteza de outro?
E se eu te afirmar com todas as letras e propriedade de cada uma delas que eu já fiz isso um dia e carrego comigo até hoje a dor da minha escolha?
E se eu te confessar que estou sentindo vontade de chorar só de pensar nessas coisas?
Eu sei que a vida é um eterno “optar”.
A gente só não tem escolha sobre nascer ou morrer.
Mas eu não lido bem com mudanças, justamente porque não é da minha natureza e porque todas pelas quais passei foram muito dolorosas.
Não consigo olhar pro horizonte, ver uma mudança de rumo no meu caminho sem sentir meu pé sair do chão. E eu não gosto disso.
Sei também que posso me acomodar e viver não exatamente o que eu desejo por isso.
Mas não consigo gostar de sofrimento. Talvez seja frágil demais ou mesmo fraca, fresca, não sei.
Sei que só ele, o sofrimento, traz o crescimento, porque “o que não nos mata, nos fortalece”.
Vivi isso e sei muito bem o que essas palavras significam, mas posso te dizer que se não nos matam, meu Deus, como nos fazem sofrer!
Eu lamento tudo o que deixei pra trás. Lamento tudo que não deu certo. Lamento quem eu quis e não me quis e lamento o contrário também.
Lamento tudo que deixei de fazer e lamento muito mais o que fiz e me arrependi.
Não consigo me desvencilhar dos meus sentimentos, mesmo dos mais antigos e nunca fiz reflexão nenhuma sobre isso, mas é o que me ocorre.
Talvez eu seja mal resolvida, recalcada, sei lá, mas sou assim e não sei por que.
Talvez seja porque foi tudo mal resolvido, mal acabado. Talvez.
Mas isso são hipóteses e não há ninguém no mundo pra me esclarecer.
Você é um fato. Nós dois juntos somos uma suposição.
E eu não sou tão convicta do que sinto. Não tenho certeza de nada.
Às vezes tenho vontade de “experimentar”, mas esse é um passo maior que a minha perna, entende?
E se a experiência não der certo?
(...)
Quem me garante que um dia serei feliz? E quando? E com quem?
Ninguém.
Ninguém pode me dar essa certeza.
E eu não estou certa de que vale a pena arriscar.
Não pense que sou grossa, estúpida e nem que estou sendo insensível, porque estou sendo até demais.
E considere que dói, dói (mesmo que seja escrevendo) falar cada palavra que falei, admitir cada sentimento.
Dói tanto que não ouso fazer isso nem pra mim mesma.