Realidade virtual.

Finalmente decido escrever algo, nada de muita importância, alguma coisa simples para ocupar o tempo. Ajeito o teclado, ligo o computador e enquanto aguardo, observo a tela escura.Vejo meu rosto refletido como um espelho negro, uma imagem como um negativo de fotografia. Desperto deste breve transe com as cores e sons da máquina iniciando o seu funcionamento. Cruzo os braços como se com esse simples gesto meus dedos imóveis dessem liberdade ao meu pensamento.

Lembro-me que até recentemente quando digitava algum texto, às vezes instintivamente minha mão esquerda movia-se procurando alcançar a alavanca de retorno do carro, era o hábito do uso da velha “OLIVETTI”. Com a nova máquina parece até que as palavras fluem com mais rapidez, é como se as idéias se atirassem no vídeo. È o novo completando o antigo acelerando a criação de algo. Já se pode comandar a máquina através da voz, com um olhar para um ponto da tela uma atividade é executada!

A tela escureceu para descanso, meu reflexo agora me questiona. E depois, o que virá no futuro? Talvez uma ordem telepática, não precisaria digitar, apenas encadear as idéias que se converteriam em textos completos, isto seria o máximo. Porém melhor ainda seriam as imagens. Imagine se uma cena qualquer que você assistiu recentemente e que estivesse viva em sua memória pudesse ser transmitida da sua mente e reproduzida diante dos seus olhos. E se tivesse movimento como um filme? Seria possível assistir outra vez todos os nossos momentos de felicidade, reprisando sempre que nos sentíssemos tristes. Gravaríamos e arquivaríamos tudo para que nada se perdesse. A máquina então seria uma cópia de vida com todas as nossas dores e amores, nela estariam contidos aqueles que amamos e nos deixaram, todas as nossas experiências boas ou não tão boas.

Teria então a máquina alguma coisa que se pudesse chamar de vida? Se eu a alimentasse diariamente com todos os dados necessários ela poderia amar ou odiar? Não, decididamente ela nunca poderia. Para isso é preciso ser humano, é preciso conhecer a paixão, sentir o cheiro do suor ou o gosto do sangue, a felicidade do encontro e a dor da separação. Seria apenas uma máquina e nada mais, um conjunto de cabos, fios e memórias eletrônicas que sem ser carregada com dados não passaria de uma mente em coma, talvez isto seja a morte humana.

J.Valjan