Reencontro
Jamais consegui viver preso a um lugar, sempre fui um nômade, constantemente mudando-me de casas, bairros e cidades. Talvez por este motivo tenha conhecido tantas pessoas que nunca tornei a ver. Não possuo velhos amigos, apenas os recordo. Tive uma namoradinha quando eu era bem jovem. Na época ela tinha uns quatorze anos e eu talvez uns vinte e depois de um flamejante romance nunca mais nos vimos. Reencontrei-a casualmente já faz uns dez anos e quando a vi caminhando por uma calçada a reconheci imediatamente. Os anos haviam moldado o seu corpo, tornara-se uma mulher muito bonita, considerando que devia contar uns trinta e tantos anos de idade. Desci do carro e fui em sua direção sorrindo, certo de que ela se recordaria de mim. De fato ela me reconheceu, porém dirigindo-me algumas palavras frias, alegou pressa e seguiu o seu caminho.
Naqueles dias eu estava atravessando uma fase extremamente difícil, um dos muitos “baixos” da minha vida. Meu carro era velho, tinha a barba por fazer, usava roupas surradas e talvez a minha aparência derrotada a tenha desagradado. Liguei o carro e fui cuidar da minha vida, nunca mais pensei neste incidente.
Hoje pela manhã, após deixar o carro no estacionamento e enquanto caminhava distraidamente, fui surpreendido por uma mulher que caminhava sorrindo em minha direção. Tinha uma aparência envelhecida, desleixada, suja e só depois de ouvir sua voz eu pude reconhece-la. Sim, era aquela antiga namorada, mas não era mais a mesma e sim o que restou dela. Sem que eu pudesse fazer ou dizer algo foi logo pegando minha mão, me abraçando e me beijando o rosto. Perguntava como eu estava e dizia outras palavras que eu mal podia compreender direito. Não sei quanto tempo isso durou, mas parecia uma eternidade e quando finalmente acabou saí dali aliviado. Enquanto caminhava me voltei e olhei em sua direção. Ela ainda estava lá, parada com aquele rosto enrugado e um sorriso triste. Segui pensando no primeiro reencontro e na ironia daquela situação, me sentindo de certa forma vingado.
Agora refletindo melhor sobre aquela cena tão triste, sinto remorsos, me sinto pequeno pela minha atitude e meus pensamentos. Talvez aquela pobre mulher triste, desesperançada ou sem rumo, estivesse precisando apenas de uma palavra de carinho, um gesto de solidariedade. Quem sabe naquele exato momento, ela tenha reencontrado um leve brilho de esperança na forma de uma lembrança feliz do seu passado, apenas um pontinho de luz na escuridão?
Talvez eu nunca mais a veja, sinto muito por ela e por mim, o destino me deu a oportunidade de ser útil, me colocou ali diante dela e eu insensivelmente não fiz nada.
J.Valjan