Beleza vazia
Ao parar em um sinal fechado um som chamou-me a atenção, vinha de uma dessas academias de ginástica que proliferam pela cidade. Através de suas grandes janelas, como em vitrines, expunham-se pessoas pedalando e correndo freneticamente. Não percebi sinal de felicidade ou satisfação em seus rostos, apenas sofrimento. Lembraram-me as antigas galeras romanas, onde escravos ao som ritmado de um tambor, revezavam-se nos remos movimentando a embarcação. Quando algum dos cativos desfalecia frente à exaustão, era lançado ao mar, aumentando então o sofrimento dos miseráveis que conseguiam resistir.
Talvez esta seja uma forma de escravidão, o culto excessivo da forma perfeita, ou do que essas pessoas entendem como perfeito. Exercícios repetitivos, diários e em quantidade que qualquer pessoa normal teria necessidade de executar somente em um mês ou mais, um excesso absurdo. Tal quantidade de esforço, para qual o corpo humano não foi destinado, não poderia acelerar o desgaste dos músculos, cartilagens e articulações?
Alguns, em busca de resultados mais rápidos e maiores lançam mão de produtos químicos, as chamadas “BOMBAS”, e vão minando seus órgãos vitais com tumores ou atrofias.
A indústria fatura bilhões de dólares em todo o mundo, na produção de “glúteos e seios artificiais”, os homens aderiram às panturrilhas e peitorais “sintéticos”, como se o uso dessas próteses lhes aumentasse a produção de testosterona. A indústria vende ilusões apostando no limite da sanidade de muitos.
Melhorar a aparência, parecer mais bonito sempre foi uma preocupação desde o início da Humanidade, é normal e saudável. Lembro-me de quando era um adolescente, juntava-me a outros colegas e praticávamos ginástica ou levantamento de pesos. Logo ficava entediado com aquilo tudo e ia para casa ler um bom livro e hoje estou certo de que tomei a decisão acertada.
Aprender a conviver com a sua forma física é o grande segredo. Para que preciso de músculos avantajados se não sou estivador? Se não sou jogador de basquete, ser alto demais seria inútil. Não pretendo ser lutador de “SUMÔ”, então meus cinqüenta quilos já são suficientes.
O mais importante de tudo é saber que existem pessoas que nos amam, apesar da feiúra, da magreza, da gordura ou cor de pele. Essas pessoas nos tocam com todos os sentidos, e não apenas com a visão. Elas intuem o que há de bom dentro de cada um de nós e nos amam incondicionalmente.
É com tristeza que vejo gente morrendo nas mãos de cirurgiões inescrupulosos, verdadeiros açougueiros que vão enriquecendo enquanto a terra cobre os seus erros, jamais ofenderia o meu corpo entregando-o em suas mãos.
Não sou uma pessoa “que está conformada com seu corpo”, sou alguém plenamente satisfeito com o que sou, portanto capaz de me despir diante de alguém sem sentir vergonha.
J.Valjan