[Devagar, Bem Devagar...]
Eu queria andar devagar, ir bem devagar... refazer passo sobre passo, se fosse possível. Eu queria que a minha figura falasse por si, que eu não precisasse gastar palavras, que eu não tivesse o dissabor de descompreender... e de ser descompreendido!
Enfim, queria que só o meu corpo [em ação, alguma ação] fosse lido... e, sendo já temerário, que a minha voz, se fosse ouvida, o fosse em clara linguagem compartilhada com quem me ouve!
Tudo faz tanto tempo... mas o tempo sou eu que faço, o tempo é criação minha, mais precisamente, dos olhos meus. O tempo passa para os meus olhos vivos e arranca de mim o que mais quero... O tempo é presença ao ser, e não passa para os seres estáticos, mortos.
Ah, por isso, por onde caminho, eu quero ir devagar... suficientemente devagar para ser lido, e para não fazer esforço nenhum... Ah, eu estou cansado de... No fundo, o que eu quero mesmo é que o meu corpo seja lido sim, mas pelo corpo de quem me ama!
[Penas do Desterro, 12 de março de 2011]