O que sou

Eu sou o cheiro do vento.

Eu sou o remanso dos lagos.

Eu sou a beleza das ondas,

Eu sou a estrela no espaço.

Eu sou este sol que ilumina.

Eu sou esta lua que acalma.

Eu sou o balão que sobe,

Eu sou o eco dos vales.

Eu sou o diamante da rocha.

Eu sou o calor do sol.

Eu sou a importância do sangue,

Eu sou a semente do girassol.

Eu sou o trombo nas veias.

Eu sou o raio na chuva.

Eu sou o desespero da fome,

Eu sou o filho que a mãe excomunga.

Eu sou este ar que dá a vida.

Eu sou essa água do solo.

Eu sou o perfume da flor,

Eu sou a poetisa de outras horas.

Eu sou a angina no peito.

Eu sou a avalanche nas neves.

Eu sou o furacão do sul,

Eu sou a escuridão das trevas.

Eu sou o canto dos pássaros.

Eu sou o sabor do prazer.

Eu sou a doçura do mel,

Eu sou a alegria do viver.

Eu sou a pedra que rola.

Eu sou o sino que toca.

Eu sou o sangue que corre,

Eu sou o giro da roca.

Eu sou o simulacro da forca.

Eu sou o caminho do mal.

Eu sou a alucinação do delírio,

Eu sou o ardor do espinho, da lança e do sal.

Eu sou a caverna de inermes.

Eu sou a esperança dos pobres.

Eu sou o carinho da brisa,

Eu sou o segredo dos cofres.

Eu sou o agouro dos corvos.

Eu sou o veneno das cobras.

Eu sou o fogo da brasa,

Eu sou o carrasco com as cordas.

Eu sou o sorriso da criança.

Eu sou a experiência dos velhos.

Eu sou o conto das fadas,

Eu sou a encarnação de Eros.

Eu sou da granada o estilhaço.

Eu sou o golpe da foice.

Eu sou do karatê o seiken,

Eu sou do burro o seu coice.

Eu sou o livro que ensina.

Eu sou o princípio da sorte.

Eu sou o orvalho da noite,

Eu sou o encanto da morte.

Eu sou o pavor do medo.

Eu sou o nervoso do gago.

Eu sou a picada da abelha,

Eu sou o estrume do gado.

Eu sou a lente do míope.

Eu sou a bengala do cego.

Eu sou a morfina inibindo a dor,

Eu sou o mistério do ego.

Eu sou Vênus e Marte.

Eu sou o veneno que mata.

Eu sou o Vesúvio destruindo,

Eu sou a cólera que ataca.

Eu sou os jardins do Éden.

Eu sou a perfeição dos caracóis.

Eu sou o festival de Cannes,

Eu sou o mágico de Óz.

Eu sou o homem perdido na lua,

Eu sou o mendigo na Terra.

Eu sou a justiça clamando,

Eu sou o fogo subindo a serra.

Eu sou a boca sorrindo.

Eu sou a liberdade do pássaro.

Eu sou o coração de menina,

Eu sou o cometa que passa.

Eu sou a brisa que beija os lábios.

Eu sou o suspiro que afoga as mágoas.

Eu sou a lembrança que transcende os anos,

Eu sou a vitória desse povo fraco.

Eu sou as fábricas poluindo os rios.

Eu sou o monóxido envenenando os ares.

Eu sou a escória atômica que assombra o mundo,

Eu sou a televisão que destrói os lares.

Eu sou a droga que cura o câncer.

Eu sou o vento que espanta os males.

Eu sou o extintor que apaga o fogo,

Eu sou força que controla a garra.

Eu sou a mão que oferece comida.

Eu sou a sombra que protege o gado.

Eu sou o oásis que salva no deserto,

Eu sou a fé, na hora aflita do parto.

Eu sou os megatons da morte.

Eu sou os mísseis teleguiados.

Eu sou Hitler exterminando judeus,

Eu sou a foto dos assassinados.

Eu sou o sono que refaz do cansaço.

Eu sou a noite para que você possa dormir.

Eu sou o sonho que completa a felicidade,

Eu sou a manhã disposta do agir.

Eu sou a intuição da mulher.

Eu sou o vírus da peste suína.

Eu sou a febre aftosa no gado,

Eu sou a privação da vacina.

Eu sou o farol da Alexandria.

Eu sou o silêncio dos templos.

Eu sou a alegria da Disneylândia,

Eu sou o amor dos novos tempos.

Eu sou o Judas da mesa.

Eu sou o esquadrão da morte.

Eu sou Nero incendiando Roma,

Eu sou a rês a caminho do corte.

Eu sou os versos que animam a vida.

Eu sou a viola que embeleza o forró.

Eu sou a cigarra que canta e chora,

Eu sou o bailar da pedra mó.

Eu sou a artrose nas juntas.

Eu sou a ardência do calo.

Eu sou a cólica nos rins,

Eu sou a conjuntivite nos olhos.

Eu sou os brinquedos do parque.

Eu sou o iate deslizando no mar.

Eu sou a pipa colorida flutuando,

Eu sou o balão majestoso no ar.

Eu sou o bromato no pão.

Eu sou a canjiquinha na carne.

Eu sou o herbicida no campo,

Eu sou a coceira da sarna.

Eu sou a serpente preparando o bote.

Eu sou o escorpião injetando o veneno.

Eu sou a aranha mordendo a criança,

Eu sou, também, a febre do feno.

Eu sou a beleza do cisne.

Eu sou o encanto do pavão.

Eu sou a elegância da gazela,

Eu sou o colorido do faisão.

Eu sou o tumor no cérebro.

Eu sou a inflamação do baço.

Eu sou a gangrena na perna,

Eu sou a fratura do braço.

Eu sou o prêmio da loto.

Eu sou a aposta no bicho.

Eu sou a federal premiando,

Eu sou a sena fazendo ricos.

Eu sou o governo da massa que virá.

Eu sou o povo festejando nas ruas.

Eu sou a expectativa nova que nasce,

Eu sou o mundo respeitando o novo líder.

Eu sou a cruel febre atômica.

Eu sou esta doença infernal.

Eu sou a pele desmanchando,

Eu sou a seqüela menor deste mal.

Eu sou Deus por entre as nuvens.

Eu sou o exército fantástico dos anjos.

Eu sou os clarins anunciando a Ave Maria,

Eu sou nessa hora o infinito e os seus encantos.

Eu sou a alcoólatra que regenera e sorri.

Eu sou a alma que consegue a salvação.

Eu sou a dependente que supera o vício,

Eu sou a mae concedendo ao filho o perdão.

Eu sou uma dessas essas mulheres que habitam o planeta Terra.

Que em vez de guerra, quero paz

Quero que se acabe a peste, a violência, os foguetes.

Ms quero também manicômios dignos

Para um dia eu la morar..

Valentina Leemann
Enviado por Valentina Leemann em 12/03/2011
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