Uma pequena história de amor
Rosebel não sabia o que era o amor, apesar de ser o amor. De longe, seu pai a observava e contrito, assuntava:
“Minha bela Rosebel, tens o fulgor dos raios do sol e tua pureza preocupa desde os eternos macrocosmos até os átomos infinitesimais; a fonte por onde a vida jorra acalenta teu desejo que freme por criar mundos que bailem ao teu redor. Aquece tuas mãos suavemente no peito deste que vela por teus passos puros como de uma criança a pular por sobre as estrelas suspensas no vácuo do céu.”
Ao completar o seu primeiro eão, os olhos de Rosebel cintilavam ao divisar os campos além. Um forte anseio tal qual um espasmo cósmico, ondulava em reverberações no profundo do sem limites.
— O que deve haver além desses anéis que tanto apertam meu coração?
Não tão distante dali, a voz sem corpo, soou o cântico das diferenças. E na canção que se formou, um chamado voou como uma pomba alva até os olhos de Rosebel.
Ao sentir a ardência do poder crepitar nas câmaras acesas de seu coração, a jovem alma, pulou nos braços do abismo das formas. A cada etapa de queda livre, o vento da consciência burilava com o cinzel do desejo o desabrochar de insuspeitas realidades.
No canto escuro da sabedoria, espreitava Ideário.
Tão logo se tornou concêntrico os olhos de dentro com os olhos de fora, Rosebel quis o que seu desejo queria: criar. E criou, criou, criou... criou tanto que o mistério das formas cristalizou a emersão do exterior diante de seus olhos. No reflexo desse ato, o amor escondeu-se na aparência. E Rosebel viu que era bom, serviu-se do sabor da gratidão do dever cumprido e deitou-se pela primeira vez na sombra de sua criação.
Assim nasceu o início. E do início o ciúme pelo fim. Pois o fim ama sem complascência o início de cada finito.