Esmolas e bênçãos.

Esmolas e bênçãos.

Certa noite parei com o meu carro em um semáforo, como de costume, levantei um pouco o vidro por causa da segurança. Do início da fila pedindo esmolas a outros motoristas, veio vindo um indigente, que deveria ser portador de paralisia infantil, pois usava muletas para substituir seus membros atrofiados.

Já perdi a paciência com pedintes, pois faltam invadir o seu pequeno espaço em busca de dinheiro, não estava contente de ter mais um ao lado do vidro, de forma que fui taxativo:

- Não tenho – disse eu, acenando negativamente como dedo, assim como de costume.

De lá, numa voz calma emoldurada por um sorriso educado veio a resposta:

- Não há problema senhor, mesmo assim, tenha um bom fim de semana e Deus o abençoe.

Ele havia me dado gratuitamente toda a generosidade que se ganhar após se estender algumas moedas. Saiu novamente com suas muletas e vida triste.

Naquele momento ele me desarmou. Tomou o comando da situação, que era toda minha até então, a qual estava acostumado a ter, sendo eu o detentor do bem que se dá como caridade.

Até hoje, nunca dei um centavo a ele, mas ele ganhou uma coisa bem maior de mim, o respeito, sempre renovado quando passo no mesmo semáforo toda semana.

Não posso pagar a alguém que tem um tipo de riqueza maior que a minha, pois nunca teria moedas suficientes para comprar algo que vem do coração.

2006

Duke Webwriter
Enviado por Duke Webwriter em 06/11/2006
Reeditado em 11/01/2012
Código do texto: T283963
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