- 0 - "Vinte e Nove Poemas"

Havia um espaço sujeito às tonalidades da luz o tempo que vai o tempo que flutua e se sente ou não se sente as horas para viver sempre presente a esse espaço e ausente com os olhos ou as asas e vinha o vento pelo areal e as aves ficavam na marginal e mais ainda as árvores na orla dos caminhos e havia o teu corpo e a nossa sombra quando tudo era mais azul o meu corpo deitado no prolongamento do mar o desejo o lume da pele desenhámos as marcas da emoção em redor das áleas do silêncio para só sentirmos os lábios unidos a morte que importa ou a dor mesmo a solidão esta memória de um dia que se estende onde o espaço é o vitral de todas as imagens a minha narração à luz que cai até dentro das palavras e por dentro se sente aquela tristeza quase inexplicável ao fundo da paisagem apenas um lugar desde a esplanada até à felicidade do mar já na névoa da melancolia quando tudo é possível lembrar do futuro tudo.