[03h20... A Manhã Cinza]
Minhas manhãs... onde?
Acordo, e só vejo o escuro,
sinto cansaço do vazio,
tenho a voz presa,
não posso falar,
e ainda que eu tentasse,
não teria uma escuta...
É hora de desaprender
tudo o que vi e vivi,
de esquecer o corpo
em dormências inúteis?
É hora de não mais
admirar-me dos passos
da formiga preta na
amarelura das flores?
É hora de não mais
interrogar as pessoas,
o perfume das flores do campo,
as estradas, as águas, os céus?
É hora de ficar abandonado,
feito um objeto antes valioso,
ao relento frio do quintal?
É hora de ir... e eu não vi?!
É o quente da hora da Hora,
É a hora do "Óh"?! Será?
Minhas manhãs, sem estrelas,
agora são de chumbo,
e não de ouro do sol?
Amanhecerá... enfim,
para mim, outra vez?
Espanto... secura...
[Penas do Desterro, 10 de março de 2011]