A DOR E O PRAZER DE ESCREVER

Obrigo-me a escrever, violentada que sou

Pela montanha de palavras que numa urgência incomum

Teima em lançar– se fora dos meus pensamentos...

Às vezes escondo-me de mim mesma,

Fugindo para tentar encontrar meu sono...

Embriagar-me letargicamente em meus sonhos.

Mas personagens multicores e suas histórias...

Mesclados a poemas de amor,

De saudade ou decepção,

Iluminam minha escrivaninha e me encontram.

Mesmo que quisesse, injusto seria

Aprisionar contos e poemas, frases e idéias

Que não pertencem somente à minha memória,

Mas são verdadeiros seres, puros ou carnais,

Personagens vivos ou fantasmagóricos que jazem

Impolutos, perenes... Ora nascem, ora morrem

No mundo fantástico ou comum criado por mim,

Antes por Aquele que me concedeu o dom...

A loucura e a sobriedade, a dor e o prazer

De dar à luz um poema ou uma história.

Abantesmas que antes foram matéria,

Vidas santas ou pecaminosas,

Reais ou sem sentido...

E o dissoluto que aborto,

Seguem redivivos porque se misturam

A novos pensamentos que com violência

Saltam de dentro de mim.