DE SONHOS ELA VIVE
Um arrepio gelado tocou-lhe a face ao abrir a janela do quarto.
Os brilhos das estrelas se misturavam com a visão turva e pesada, enquanto o coração ritmava no peito num batimento descompensado.
Cobriu-lhe os ombros com o roupão a fim de aquecer-lhe o corpo sobre a camisola fina e fria, soltou os cabelos, levou a mão na face para sentir que havia acordado do pesadelo.
Novamente, sempre na calada da noite, a mesma sensação fazia com que ela despertasse com a boca seca e uma inquietação.
Observou ao seu redor e tudo permanecia do mesmo jeito de outrora.
Ela, em busca de paz, e sua alma em busca do sono dos sonhos que os completariam, mas, seus olhos mais uma vez confirmavam que o que vivera nessa noite era apenas mais uma das diversas insônias que vem e vai sem explicação, e que sempre a faz despertar.
Olhava pro seu medo de acordar e estar sozinha.
Olhava pra espera, a longa e dolorosa espera...
Olhava para os dias em que a vontade desse amor é tanta, mais tanta, que parecia não caber no peito.
- Vivo os meus sonhos!
Falava baixinho inúmeras vezes para que a sua alma absorvesse essa mais pura verdade.
Então, fechou a janela, deitou-se na cama, agarrou o travesseiro de modo que o abraçava fortemente, enroscou o edredom entre pernas, fechou os olhos e adormeceu novamente.
Aquela sensação infernal logo terminaria com o que lhe restava de descanso.
Um novo dia ia nascer e diante deste novo amanhecer, ninguém saberia, que a realidade não passa de algo distante, por que de sonhos ela vive!