SONHEI? QUEM SABERÁ?
Parece que a revolta invadiu seu coração
As amáveis palavras, outrora inspiradas e inspiradoras
Cederam tão logo a geografia mudou seu relevo
E como desbravador em mata fechada
Perdeu-se no caminho da volta.
E a espreita sobre colina
O mandrião, depois de muito relutar, salta
E sem forças para lutar
A presa garantirá a energia da matilha.
Arre!
Doutos e sapientes seres vis
Fartei-me das verdades absolutas
Da bondade divina e eterna, caverna.
Arre!
O bom pastor de rebanhos submissos
Os olhos ao chão indicam o quão sois tristes
E a roupa papal triunfa frente aos maltrapilhos irmãos.
E a misericórdia divina, largamente reverenciada e enaltecida, nada faz
Faltam a água, o pão e o cobertor
E a pele ressecada exibe a rouxidão da noite anterior
E sob o viaduto, corpos tremulam a espera do sol que não vem.
Arre!
As certezas acadêmicas e servis
Reformulam teses, mas não o homem
E a obediência se justifica em artigos pomposos e premiados
E o título será entregue sob flasches e vivas de claque.
Estou farto!
Meus olhos não enxergam o que me querem obrigar
Minhas mãos não produzem o vendável
Então sou um pária
Um reles habitante do espaço urbano
Devo sair
Devo inexistir
Devo esquecer quem sou
Mas eu me nego
Não sigo a cartilha reverenciada
Nem ligo para cartilhas.
Sou o ontem e o amanhã
Sou a criança no ventre e quer nascer
Sou você, ele ou ela
Que diferença faz?
Nenhuma, dirão
E fecho o livro e durmo
Sonhei? Quem saberá?
E me refiz para novos amanhãs.