[O Óleo Quente do Ódio]

Um vero derrame...

O quente óleo do ódio

escorre, banha o meu fígado;

o fel enche-me a boca...

Mais uma morte? É sim!

Não há estranhar nisto;

em algum ponto do corpo há de arrebentar:

é com o meu fígado que eu reajo

aos ataques, aos males do mundo;

e quase sempre, ou sempre,

eu não me saio bem das refregas!

Mas sou como o boi carreiro,

junto forças, descarrego a minha fúria

no esforço para vencer a subida!

Se lamurio é por que o óleo quente do ódio

que cozinha mal cozido o meu fígado,

me põe nessa gemedeira, nessa dor...

Descomparação: na saída da passagem do córrego,

a extensa subida, o sofrimento dos bois...

Para anunciar o quanto dói esse esforço,

o carreiro apanha o chifre de banha

quente do sol abrasador do sertão,

e derrama nos cocões do carro;

aí sim, que a gemedeira da subida se alonga,

espalha-se pelos campos, pelas grotas -,

a dor aperta no aboio que a lembrança entoa...

O carreiro, a banha quente do sol,

o óleo quente do ódio em meu fígado,

o carro gemendo na subida,

eu, de bom ódio, chorando na vida...

Desconjuminações, deslembranças,

eu e os meus desaconteceres

ficamos perdidos pela aí...

Quem achar, perdeu... ou vai perder!

[Penas do Desterro, 07 de março de 2011]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 07/03/2011
Reeditado em 07/03/2011
Código do texto: T2832774
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