EU E O TEMPO
Faz tempo que eu não me vejo no espelho nem ao meu rosto nem ao tempo que passou nos meus cabelos opacos.
O tempo vai e não sou eu dentro dele, é o vestígio de mim que deixei
em algum reflexo enevoado de cigarro e vinho.
Os nódulos rugosos na garganta me dizem que não sou mais quem era ou pensei. Nunca fui do espelho o que vi!
Sei que nada no mundo é de mim o que quis ou que o que tive foi meu, como fui eu, dele...
O tempo!
Que a vida que me escorre é veloz... Meu rio foi como um mar, e as pernas tremiam a visão era miragem e eu era tão feliz!
Eu ria e chorava, sem saber que tudo era meu... Eu era o que me dei e o que me roubaram, calaram no meu olho a lágrima de rosas e o perfume foi fétido e branco, como o dia.
Não há mais nada de mim, exceto eu mesma. Eu e meu espelho rachado, sujo, na brasa do meu cigarro e a imagem que vejo no fundo da taça é o sabor do que de mim ainda sei, ou nunca soube:
Seguir o arco-íris em busca do pote de ouro que já foi roubado, antes que eu soubesse
Tudo de mim.