EU E O TEMPO

Faz tempo que eu não me vejo no espelho nem ao meu rosto nem ao tempo que passou nos meus cabelos opacos.

O tempo vai e não sou eu dentro dele, é o vestígio de mim que deixei

em algum reflexo enevoado de cigarro e vinho.

Os nódulos rugosos na garganta me dizem que não sou mais quem era ou pensei. Nunca fui do espelho o que vi!

Sei que nada no mundo é de mim o que quis ou que o que tive foi meu, como fui eu, dele...

O tempo!

Que a vida que me escorre é veloz... Meu rio foi como um mar, e as pernas tremiam a visão era miragem e eu era tão feliz!

Eu ria e chorava, sem saber que tudo era meu... Eu era o que me dei e o que me roubaram, calaram no meu olho a lágrima de rosas e o perfume foi fétido e branco, como o dia.

Não há mais nada de mim, exceto eu mesma. Eu e meu espelho rachado, sujo, na brasa do meu cigarro e a imagem que vejo no fundo da taça é o sabor do que de mim ainda sei, ou nunca soube:

Seguir o arco-íris em busca do pote de ouro que já foi roubado, antes que eu soubesse

Tudo de mim.

Jacqueline K
Enviado por Jacqueline K em 06/03/2011
Reeditado em 06/03/2011
Código do texto: T2831650
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