FOLGUEDOS DE CARNAVAL DA MINHA INFÂNCIA.
Chagaspires
Os carnavais de minha infância lá pelos anos 50 eram encantadores. Não tinham o brilho dos paetês, nem a maciez das plumas, nem a nudez de mulheres maravilhosas, mas exalavam o perfume gostoso da inocência do qual o lança-perfume fazia parte.
Caboclos de lança, tribo de caboclinhos, blocos de frevo como o Bloco Cebola Quente e o misto intitulado de Riso das Flores e as escolas de samba, povoavam os carnavais daqueles tempos.
Mas o que mais me chamava atenção era a então “ “Laursa”.
O grupo era composto por uma pessoa fantasiada de Urso, um caçador todo vestido a caráter e armado com uma espingarda atrelada as costas, segurava o bicho por uma corda amarrada a sua cintura ( do Urso), um sanfoneiro, um trianguista e um zabumbeiro.
A fantasia de Urso era confeccionada com samambaias secas e uma máscara de meter medo, representando uma cabeça de urso com os dentes afiados a mostra.
Sempre dançando ao som da pequena orquestra, com um diminuto pandeiro na mão virado ao contrário que servia para angariar dinheiro, a Laursa com seus trejeitos audaciosos, causava temor à criançada, pois como a cultura da época fazia alusão ao Bicho Papão, Papafigo e a outros monstros que pegavam crianças; agente morria de medo.
Esse grupo carnavalesco dançava em frente às portas das casas.
Com o coração aos pinotes e agarrados a saia de nossa mãe, íamos para a porta de nossa casa para ver o grupo se apresentar. A dança da Laursa era cheia de trejeitos e pantomimas, e de quando em quando deva um pequeno bote nos fazendo gritar de pavor.
Quando do término da apresentação, mamãe depositava uma pequena quantia em dinheiro no pandeiro do monstro, ele agradecia o óbolo com uma reverência e partia em busca de outra residência.
O engraçado de tudo isto é que depois de algum tempo, já adulto, descobri por acaso que nosso pai costumava participar desse folguedo e justamente encarnado na pele da famigerada e temida Laursa.