Apenas para falar da tristeza

Não estou bem. Lembro-me daquele momento no qual ainda era um bebezinho saindo da barriga da minha mãe. Fofinho, gordinho. Uma graça de criança. E aquele neném foi crescendo. Tornou-se um adulto com todos aqueles problemas conhecidos. E o adulto carrega dentro dele aquela criança que um dia foi. Um bebê que adorava sorrir, mesmo com a ausência de dentinhos. Quando chorava, era por fome, por dor física. Nunca o choro estava ligado ao emocional. Isso pelo menos até os oito anos, quando começou a sentir o coraçãozinho palpitar por amor às pessoas que o cercavam. Agora grande, esse ser humano sente a necessidade de amor. Precisa dos outros. Não consegue viver sem ter em volta pessoas que gostem dele. No entanto, a vida teima em fazê-lo sofrer...

Ainda me lembro de quando tinha 10 anos. Apaixonei-me por uma menina. Um dia a tal mocinha apareceu na sala com o braço na tipoia. Fiquei com tanta pena, tanta. Sabe o que fiz? Cheguei em casa após a aula e fui até a janela. Levantei-a e a derrubei no meu braço... Não consegui me machucar da forma como queria. Contudo, falei para minha mãe que havia fraturado o braço. Eu queria acreditar naquilo. Não deu muito certo, pois o raio x acusou que estava tudo ok comigo.

Essa foi minha primeira decepção amorosa. Não pude mostrar para meu amorzinho platônico que eu sabia a dor que ela sentia.

E tem sido assim. Hoje, com 25 anos, as coisas ainda continuam as mesmas para mim. Não há comunicação entre eu e as mulheres. Um campo de força invisível me separa delas, me impedindo de ser feliz, consequentemente.

Deus sabe quantas vezes chorei por uma mulher. Não tenho vergonha de derramar lágrimas. Foram muitas paixões recheadas de decepção. Projeções de felicidade que se desbotaram, ficaram foscas e sumiram. O colorido onírico sempre se transforma num preto e branco tenebroso.

E foram tantas vezes. Tentativas frustradas. Falsas tentativas... Sempre as quero e elas não me querem. Apaixono-me com tanta facilidade. Basta dizer que me acha legal e logo vejo a pessoa com outros olhos. No fim do dia sempre sobra meu quarto e eu mesmo preso nele. Minha prisão cotidiana. E a pior de todas, pois é em liberdade. Fico aqui sozinho lamentando. Fico também imaginando como seria uma vida mais feliz. E essa vida idealizada sempre está relacionada com a menina dos meus sonhos. A princesa encantada que me fará o cara mais feliz de todo o Universo. A criança dentro de mim sente necessidade dessa projeção. Ela quer se amamentar na felicidade. Se deliciar nos seios da esperança.

E ela olha para as moças nas ruas e vê a possibilidade. Porém, as moças das ruas não enxergam a criança. E ela chora. Em prantos clama por consolo. Este sempre vem, de algum lado. O choro passa, nem que seja depois de criar um riacho.

A criança olha as estrelas, olha o Sol, a Lua, o oceano. Tudo é cenário romântico. Ela se vê retratada naquelas pinturas famosas, como se o dedo de Deus a tivesse desenhado em cenas perfeitas. No entanto, logo tudo se desfaz e retorna a solidão. E mais tentativas frustradas. Ela implora para as moças: me ame! Por favor, me ame!

E as moças passam velozmente pelas ruas da nostalgia irreal. Não se dão ao trabalho de pegar o neném no colo ou mirar naqueles olhinhos brilhantes. E ele fica ali, chorando e se derretendo. Parece que o bebê é feito de açúcar pra se derreter assim. E se afoga no Oceano da amargura. Sente-se sufocando quase até a morte. É uma sensação de querer gritar sem poder. É um grito interno que parece ser disparado quase como uma bala; vai ricocheteando nos órgãos e acelera o coração. E começa a disputa entre cérebro e coração. Os dois a iniciam na balança...Forma-se aquele equilíbrio inconstante. Após um tempo, cérebro e coração passam a disputar através do cabo-de-guerra. Puxam para um lado e para o outro. No fim, acabam fazendo algum tipo de acordo, quase sempre após a corda arrebentar.

Só que uma coisa é certa: a tristeza sempre prevalece. Pois a criança nunca pára de chorar!

E aquele sentimento engloba-se no adulto, quase como uma simbiose. Ele passa também a chorar. Novamente encontra-se no seu quarto aos prantos. Outra moça o deixou assim. O rapaz olha no espelho e se pergunta: o que tenho de tão errado? Fica tentando descobrir o que tem na sua personalidade que afasta tanto as pessoas, principalmente as meninas. Ele não sabe. Com certeza deve ser algo muito grave e imperceptível. Ou pode não ser nada; quem sabe apenas destino. Quando se percebe destinado a sofrer eternamente por amor, o adulto, (ou melhor, eu), fica tão triste quanto a criança. E as lágrimas retornam. Ele vai até o banheiro e as enxuga. Mas elas não cessam. O jeito é entregar-se a elas. Deitar e esperar que tudo aquilo passe.

- Oi, eu sou legal! Diz ele. As moças parecem não acreditar.

- Só quero te abraçar, beijar, fazer carinho e morrer abraçado contigo! Pensa, mas a moça o ignora.

- Vamos ter filhos, uma família feliz. Cozinho pra você! Limpo a casa, passo, lavo roupa, faço compras! Ele ainda insiste, mas percebe-se sozinho, numa sala vazia, falando com as paredes.

Avista a primeira que aparece, após horas de espera na rua das ilusões perdidas. Aproxima-se dela e se ajoelha. Implora uma chance. A moça o empurra, fazendo-o chegar ao chão. E ela desaparece. Ele fica arrasado. No chão, mais lágrimas o afogam. No entanto, não morre. Não consegue acabar com o sofrimento dessa maneira. O afogamento é permanente! Ele se zanga. Bate a cabeça nas paredes da sala vazia! Sangra, chora mais, sente o coração pulsando forte. Os dentes estão cerrados. Puxa os cabelos e os arranca gritando internamente. A voz não sai. Quando sai, é tão baixa que ninguém consegue ouvir. A respiração não vem. Continua aquele sufocamento. Aperta sua própria garganta, mas não surte efeito nenhum.

E olha em volta e vê vários casais felizes. Muitos beijos estalados. Pessoas fazendo amor nos corredores dos prédios. Nos elevadores. Casais na roda gigante. Maçãs do amor, algodão doce e beijos. Balões. Festas. Ônibus lutados de moças e rapazes que se amassam. Hotéis, motéis, carros lotados de casais apaixonados. Estão todos dispostos em fila, marchando contra ele. Está só no campo de batalha. Apesar de ser um exército de um homem só, nunca se vence uma guerra lutando sozinho... Todos aqueles casais apontam suas armas. O rapaz só tem uma lança para se defender, e ainda está quebrada. Antes dos tiros chegarem, perfura seu próprio peito. Mais uma tentativa frustrada de acabar com seu sofrimento. Quando vê, está novamente no seu quarto.

Agora percebe que está de frente para o computador relatando tudo isso no seu blog. Com os olhos cheios de lágrimas, pede socorro. E as lágrimas escorrem e chegam nos seus dedos. Atravessam a tela do laptop e atingem o texto em si. E surge um epitáfio:

Aquele que sempre quis amar, mas que nunca foi amado. Lê.

No fim do post, ainda deixa mais um pedido, o qual foi escrito em conjunto com a criança dentro dele:

Por favor, me ame. E se não se importar com isso, que pelo menos não me faça sofrer mais do que já sofri.

Se sentiu algo com esse texto, que as palavras aqui descritas façam com que reflita sobre suas atitudes na vida. E nunca perca as oportunidades que lhe surgirem.

Aconteça o que acontecer, nunca deixe de amar a si mesmo e as pessoas que o cercam.

Eu cometi o erro de não me amar o suficiente. E talvez por isso ninguém ainda me ame do jeito que eu gostaria.

Peço perdão a você por isso.

Com amor,

Lê.

Leandro Francisco de Paula
Enviado por Leandro Francisco de Paula em 03/03/2011
Reeditado em 03/03/2011
Código do texto: T2826822
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