ATEMPORAL
Como água, o tempo me parece escorrer pelos dedos
Evapora, invisível a todos os meus sentidos
E apenas se congela a impressão de ter se escoado
Fica a sensação de que não vivi, de que não senti
Percebo tardiamente que o presente é curto
O presente agora é mais próximo do futuro
Ao mesmo tempo que já virou passado ...
O tempo se condensa em gotículas de memória
Desenhada em traços finos que vão se apagando
Em riscos pulados, detalhes agora borrados
Aguardando restauração, onde está o artesão?
Impossível reparar o que não se enxerga mais
Memória duvidosa,falseia, então tropeça e cai ...
O tempo não tem forma, não tem rosto
Será por isso que se veste de máscaras?
Dissimulado, aprendo a desmascará-lo
Tentando congelar suas boas vertentes
E dissolver os maus bocados a mim imputados
É fera ora ferida, ora excitada, desgovernada ...
Vivo no futuro de ontem, no passado de amanhã
Estagnada e após reflexão, entro em transformação
Tentando sentir mais intensamente o presente
Trocando a quantidade pela qualidade
Percebendo o ar que entra frio e sai quente
Transformando a experiência física em espiritual
Procurando fazer, quando preciso, o tempo estancar
E então aprender a viver de forma intensa e atemporal