O mar (a)mar
Se Deus existe, Ele está com toda sua potencialidade no mar
Está presente nas pequenas e nas grandes coisas que andam por lá
Não é por acaso que Ele nos causa tanto fascínio
É nele que vemos Deus vociferar em ondas e sorrir com as espumas de algodão que rebatem na praia
E foi Nesse Deus que vi o mundo girar
Deus é mar, amor e bom humor
Tropecei, literalmente caí e de soslaio vi uma grande onda repousar em minha cabeça
E lá fui eu rolando pela areia à fora
Levantei cego e puto com Deus
Estava eu a orar, lembrando das pessoas que amo e agradecendo por meus ganhos e minhas perdas.
Rodei como pneu
Afundei como pedra
Levantei como um bêbado
E sacudi como um pinto da galinha choca
Fiquei cego e o mar levou dois dos meus quatro olhos
O inferno apareceu em ondas rápidas e fortes
Levantei exaltado e cheio de sal, areia e raiva
Descansei em minha insignificância,
Com Deus e com o Mar não se brinca: diria minha mãe
Estava anoitecendo e já não se via nada pela minha frente
a cegueira momentânea me fez sentir mais gente
minha fragilidade cresceu como a maré e com ela o meu desespero
Caminhei cambalendo pela praia quente rumo às luzes que furavam o meu olhar.
Já de volta e com mais dois olhos diferentes.
Observei desnorteado o mar
Me enamorei e sai magoado com Ele
Pensei no amar o mar não é para peixe pequeno
Uma ponta de ansiedade e medo repousou no meu coração
Respirei fundo, olhei novamente para Ele...
Perdi perdão pelos excessos nas palavras e percebi o quanto sou fraco
Passei a observá-Lo de longe
Cheio de respeito e dor...
E lá continuava Ele: potente, onisciente, indo e vindo como a espuma forte e barulhenta que entrava toda noite pela minha janela.