[A Insubsistência do Agora]]
Não sou um desertor; sou um sujeito comum, tão comum que tenho
justa ou injustamente morrido pelos meus deveres [sarcasmo à parte, é claro]; quantas mortes eu morri, eu não consigo contar!
Cedo, muito cedo na vida eu vi a possibilidade da Morte, e assim, qualquer religião tornou-se uma ironia fútil —, aprendi que viver é olhar nos olhos dos perigos, e temer sim, mas sem tremer...
Trânsfuga eu sou, admito, mas, apenas de mim mesmo, do que me tem sido mais caro —, desertei de alguns sonhos, de outros, não... sou ingênuo — a loucura é andar nos trilhos, é ser saudável demais!
Padeço de um mal que não consigo nomear... Mas não é grave esse meu mal, e não sei quando foi que se instalou em mim —, mas até hoje, nunca me matou! Declaro que estou apenas de mãos e olhos vazios, e peito seco... qualquer afazer me aborrece, e ao contemplar as estradas —, vem o desanimo, doem-me as pernas!
Abdiquei da idéia do Futuro, desacreditei das esperanças, vivo a insubsistência do Agora, e isto tem me bastado...
[Penas do Desterro, 01 de março de 2011]