Foto: Pôr do sol na Praia da Baleia/Ce.
Autor: Ricardo Mascarenhas



CONTEMPLAÇÃO    

           Esperei esperei esperei mas não foi desta vez! Já passava das seis horas e no horizonte avermelhado o sol se punha desenhando figuras bizarras e estranhas no céu escurecido. As ondas vinham e vinham umas após outras, quebravam na areia amarelada a minha frente num barulho peculiar que elas fazem quando assim alcançam a terra. Andando lentamente por entre as espumas e aquela água transparente aos meus pés, sentia uma sensação térmica aconchegante, aquela água quentinha era um convite às divagações neste início de noite que se aparentava ser estrelada. A praia deserta de luzes era uma mágica revelação para meus olhos. Os pensamentos continuavam a povoar toda aquela beleza diante de mim. Solitário, continuei meu caminho sonhando acordado. 

 

          Sentei-me em uma embarcação pequena de pesca, que estava em seu descanso em terra e passei a admirar as maravilhas de estrelas que faiscavam sobre a minha cabeça. Deitei-me e recostei-me de forma que podia agora vislumbrar com mais conforto toda aquela maravilha de luzes no céu. A imensidão desse universo é tão grande que não conseguia traçar um pensamento cartesiano a respeito do que eu via, a não ser, concordar com a benevolência e existência de um Ser Superior, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis que nos cercam. A beleza fenomenal me trazia a tona toda a minha pequenez diante de tanto esplendor. A vida de repente se fez presente e com um sentido único, o de que faço parte de todo esse universo e da Divina Criação.  As horas passavam e eu estava ali, perdido em minhas divagações noturnas, por companhia, as estrelas, a brisa do mar prateado, ladeado pela magestosa dona persona lua, que agora surgia gigante no nascente, uma extraordinária imagem de rara beleza, coisa que poucos terão o previlégio de presenciar, de sentir toda aquela energia, capaz de adentrar alma e espírito ao mesmo tempo. O quadro era perfeito, surreal, parecia pintado especialmente pelas mãos do Pintor do Universo. A espera já não importava, as horas já não tinham tempo, o tempo não mais existia, o que existia era somente contemplação, num instante eternizado por aquela beleza infinita.

 

          Senti-me o ser mais feliz do mundo, o barulho das ondas eram violinos a entoarem as mais lindas canções, o vento a soprar, trazia as notas mais singelas, suaves, nostálgicas, tudo estava tão belo, parecia um sonho bom, daqueles que não se quer acordar nunca! Permaneci ali naquela contemplação indefinidamente. Levantei-me, agradeci ao Arquiteto do Universo por aqueles momentos de glória e adoração, e fui ao encontro de meu povo humilde e gurreiro do mar. Uma rede macia armada embaixo de uma simples casa de taipa e coberta de palhas de coqueiro, uma lamparina acessa, conversas, prosas, estórias de mar e boas rizadas, e meu dia estava completo. Uma oração em silêncio e a promessa de uma noite tranquila na proteção do meu Senhor. O amanhecer promete ser outro espetáculo sem igual nesta vida vivida assim, simplesmente. Mas isto eu conto depois de acordar!

Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 27/02/2011
Reeditado em 31/10/2021
Código do texto: T2818318
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