Danação
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Nota: Um texto literário deve ser lido e compreendido tendo-se em conta que este pode ser fictício ou acontecimento de terceira pessoa, narrado na primeira, ou ainda pura abstração. Nem sempre é biográfico.
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Não se entusiasme muito
Com este meu sorriso.
Cuidado, muito cuidado,
Vá devagar!
Não se impressione tanto
Com essas canjicas expostas,
Assim, com esse ar abestado.
Riso mentiroso, fajuto,
Enganador, demente.
Se olhar bem, com atenção,
Poderá observar meus dentes.
Nacarados, infestados de cáries.
Repare como são feios,
Acavalados e enormes.
Repare nas aftas, inflamadas.
E o hálito? Cheire! Que horror.
São emanações sulfídricas,
Que vem lá de dentro de mim.
Este sorriso que a atrai
Não é senão a porta enfeitada
De uma casa muito suja,
Imunda mesmo. Uma pocilga.
Mas já que chegou até aqui,
Tente olhar lá dentro. Olhe!
Está escuro? Tudo é negrume?
Pois é. Trata-se da minha alma.
Prontinha para descer às trevas.
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