Indefinição.

Você é o encontro do primeiro casal. É o choro, o berço e a mão que me ergueu do chão. Você é ternura e secura, abrigo e abandono, lar e rua. Você é esboço e arte pura.Som de gaivotas, norte, proximidade do mar. Você é o amor e o avesso. Dono e posseiro. Descuida e cuida. Luz e breu. Mel e sal. Leite derramado. Fome e desperdício. Você é manhã, tarde, noite e insones madrugadas.Você é tempo bom, é frio, é calor, é (meu) vento brando. Você é tempo desigual. Você é o que olha, é, também, quem lhe olha e o olhar que o ignora. Intensa presença em dolente ausência, você completa e desfalca. Põe e tira. Acalma e desassossega. Arranha e sopra. Chega e sai. Você é instinto e civilização. Memória e esquecimento. Desejo e solidão. Sonho e cotidiano. Mocinho e bandido. Herói ancestral. Você é Eros e Tânatos. Tantos. Múltiplas vontades, vagas possibilidades. Você é céu de brigadeiro e marcas de pneus na minha estrada. Rio que corre devagar. Você é mar aberto, âncora e vaporoso cais.

Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 25/02/2011
Reeditado em 21/07/2011
Código do texto: T2814597
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