Texturas Matinais
À volta soavam barulhos de copos, xícaras e talheres. Poucas pessoas sentadas às mesas tomavam seu desjejum matinal. O ambiente era extremamente calmo e silencioso. E o perfume do café, recém passado, exalava ganhando também outros espaços.
Seus olhos por vezes se tocavam. E sorriam. Ele adentrava a manteiga, repetidas vezes com toques tão macios que ela se entregava, espalhando-se sobre o pão de fubá. Levava-o até a boca delineada com finos traços. Degustava-os, pão com manteiga, vagarosamente.
Falava. Contava fatos passados enquanto seus olhos transpassavam a parede branca onde quadros se postavam enfileirados com motivos líquidos. Café expresso, Cappuccino, Camomila. Nada retinha a visão que ia para outros tempos. O casarão, os meninos ainda pequenos. O episodio do milharal. Banners que iam e vinham em sua mente.
Era ouvido. Com devoção. Cada palavra compunha um cenário maravilhoso de cores, cheiros, texturas. E a cada palavra assimilada, ela desejava intimamente ter estado lá. Apetecia-a absorvê-lo por completo e colar-se em suas lembranças melhores. Sorria silenciosa.
Enquanto isso, a manteiga se entregava. Sem resistência alguma. Apenas cumpria seu objetivo, sem nada esperar em troca. E acentuava a maciez, também do bolo em quadrado retalho.
Lá fora o sol se erguia, inocentemente marcando um relógio no céu. Embora sua luz se espalhasse cada vez mais intensa pela hora que avançava. Não podia presenciar o fato. Tão pouco, presenciar o toque carinhoso em suas mãos. E, seus olhares cumplices se davam, também, por sobre a mesa do café.
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