Meu mundo

Vivo num mundo diferente do que aquele que abriga tantos outros. Não é presunção, vaidade ou coisa que o valha, algumas coisas simplesmente são.

No meu mundo, a lua não tem três fases, é sempre negra, circulo de ébano no breu da noite.

No meu mundo, não há sorrisos que iluminam, há esgares dolorosos e falsas mostras de alegria.

No meu mundo, não existem cores, um cinza asqueroso derrama-se pela criação.

No meu mundo, não há vida, há um prolongamento atroz de algo.

No meu mundo promessas não existem, nada mais que mentiras, escondidas sob o manto de doces e falsas juras.

No meu mundo, não há dor, senti tanta que cheguei ao limite, livrei-me dela, junto, foi-se o amor.

No meu mundo, a palavra tem peso, por isso me cansa gravá-la em páginas virgens.

No meu mundo, não há brisa, o vento cansou de por aí correr, estagnou-se.

No meu mundo, não há divindade, que criou, não apreciou sua obra, e a abandonou; como faz o pai ao filho.

No meu mundo, o sol congela; não há riso sem troça, passo sem dor, estrada que leve aonde se quer chegar; onde chegar.

No meu mundo, não há quem.

Seria injusto, entretanto, não versar sobre coisas não sofríveis.

Há a cópula, pelo prazer de fazê-la.

Há a bebida, pela embriaguez.

Há a escrita, pelo desabafo.

E há você, que lê meus devaneios.

Pietro Tyszka
Enviado por Pietro Tyszka em 25/02/2011
Reeditado em 28/02/2011
Código do texto: T2813738
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