Meu mundo
Vivo num mundo diferente do que aquele que abriga tantos outros. Não é presunção, vaidade ou coisa que o valha, algumas coisas simplesmente são.
No meu mundo, a lua não tem três fases, é sempre negra, circulo de ébano no breu da noite.
No meu mundo, não há sorrisos que iluminam, há esgares dolorosos e falsas mostras de alegria.
No meu mundo, não existem cores, um cinza asqueroso derrama-se pela criação.
No meu mundo, não há vida, há um prolongamento atroz de algo.
No meu mundo promessas não existem, nada mais que mentiras, escondidas sob o manto de doces e falsas juras.
No meu mundo, não há dor, senti tanta que cheguei ao limite, livrei-me dela, junto, foi-se o amor.
No meu mundo, a palavra tem peso, por isso me cansa gravá-la em páginas virgens.
No meu mundo, não há brisa, o vento cansou de por aí correr, estagnou-se.
No meu mundo, não há divindade, que criou, não apreciou sua obra, e a abandonou; como faz o pai ao filho.
No meu mundo, o sol congela; não há riso sem troça, passo sem dor, estrada que leve aonde se quer chegar; onde chegar.
No meu mundo, não há quem.
Seria injusto, entretanto, não versar sobre coisas não sofríveis.
Há a cópula, pelo prazer de fazê-la.
Há a bebida, pela embriaguez.
Há a escrita, pelo desabafo.
E há você, que lê meus devaneios.