:::Sempre Vejo Ele:::

As árvores passavam voando por trás dos vidros do ônibus

Como uma tela expressionista de Monet, pintavam o verde

Juntando cores, misturadas naturalmente pelo chuvisco.

As flores contornavam a encosta da estrada, grotescamente

Colocada ali, entre a natureza, que se preparava para adormecer.

O sol se despedia num findo raio amarelo-alaranjado

Que dava um ar de luz e sombra á tela pintada pelo vento.

Atrás do pequeno monte, o último suspiro do sol desaparecia.

As nuvens alvas e densas flutuavam acima de meus olhos

De repente, uma nuvem de fumaça se aproximou e jogou tinta

Naquela brancura sem fim. Talvez, o pintor tenha esbarrado

Num vidrinho e borrado a aquarela tão perfeitamente pintada no céu.

Mas, mesmo com aquela tonalidade levemente marrom, vi ele lá.

Sempre vejo ele.

Ele veio surgindo por entre as nuvens que tampavam o azul.

Veio e pintou o sete no céu.

Foram minutos e mais minutos de pintura sem cessar.

Foi desenhando arcos coloridos, um atrás do outro:

Primeiro o vermelho, numa vivacidade absurda

Logo veio o laranja, imitando os raios solares

Em seguida o amarelo e o verde com sutileza

Depois, azul, anil e violeta dando docilidade á obra de arte.

Em pinceladas rápidas surgiu a íris em arcos no céu.

E sorria debochado dizendo:

"Mesmo entre a fosca fumaça desse mundo, ainda assim posso colorir!"

Ana Luísa Ricardo

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 23/02/2011
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