:::Sempre Vejo Ele:::
As árvores passavam voando por trás dos vidros do ônibus
Como uma tela expressionista de Monet, pintavam o verde
Juntando cores, misturadas naturalmente pelo chuvisco.
As flores contornavam a encosta da estrada, grotescamente
Colocada ali, entre a natureza, que se preparava para adormecer.
O sol se despedia num findo raio amarelo-alaranjado
Que dava um ar de luz e sombra á tela pintada pelo vento.
Atrás do pequeno monte, o último suspiro do sol desaparecia.
As nuvens alvas e densas flutuavam acima de meus olhos
De repente, uma nuvem de fumaça se aproximou e jogou tinta
Naquela brancura sem fim. Talvez, o pintor tenha esbarrado
Num vidrinho e borrado a aquarela tão perfeitamente pintada no céu.
Mas, mesmo com aquela tonalidade levemente marrom, vi ele lá.
Sempre vejo ele.
Ele veio surgindo por entre as nuvens que tampavam o azul.
Veio e pintou o sete no céu.
Foram minutos e mais minutos de pintura sem cessar.
Foi desenhando arcos coloridos, um atrás do outro:
Primeiro o vermelho, numa vivacidade absurda
Logo veio o laranja, imitando os raios solares
Em seguida o amarelo e o verde com sutileza
Depois, azul, anil e violeta dando docilidade á obra de arte.
Em pinceladas rápidas surgiu a íris em arcos no céu.
E sorria debochado dizendo:
"Mesmo entre a fosca fumaça desse mundo, ainda assim posso colorir!"
Ana Luísa Ricardo