PERISCÓPIO DO AMOR...
Agora meu periscópio tentava acessar
e descobrir
onde tinham ido parar aqueles grandes
olhos negros
que ainda ontem estavam acessados
nos meus....
Estava sendo impossível reencontrá-los
porque neste
grande mar de casas seus olhos poderiam
estar em qualquer lugar.
Assim, eu poderia ficar periscopando
dias...e dias,
em busca daqueles olhos que agora
eram meu desafio...
porque eu já nem sabia onde haviam
ido parar.
Acessei de novo meu periscópio numa
última tentativa
mas ela não estava ...porque a janela
estava fechada.
E então, já estava desistindo quando notei
alguém numa janela ao lado.
Alguém que também estava periscopando
toda a área,
e que certamente estava me acessando
do mesmo modo que eu...
então mandei um aceno da janela para ela...
e logo ela mandou um outro para mim.
E ficamos assim...algum tempo...apenas
algum tempo,
quando logo nos cansamos desse olhar
distante um para o outro,
pois de perto as coisas não sao realmente
as mesmas.
Mandei adeusinhos.
Ela também.
Nossas janelas se combinavam na linha
do horizonte,
nesse mar de casas...
onde periscopar poderia ser mesmo
uma grande aventura.
No dia seguinte ...mais ou menos
à mesma hora,
lá estava ela de novo e eu também.
E nosso periscopar ia acontecendo..
dia após dia,
sempre no mesmo horário,
depois do almoço.
Nos víamos...nos olhávamos...nos
acessávamos e nos acenávamos.
Íamos os dois periscopando sobre aquele
mar de casas...
até que hoje ...de repente...a janela dela
estava fechada.
E em todos os dias seguintes também.
Após uma semana, também.
Já ansioso...e não aguentando mais essa
longa espera
decidi ir até a casa dela...
E fui mesmo....porque minha ansiedade
estava impossível de se controlar.
Depois de alguns minutos eu chegava
à casa dela.
Uma casona de classe média...
e que surpresa...
toquei várias vezes a campainha e
ninguém atendia.
Nisso, da casa ao lado, sai o vizinho...
e me diz:
nao tem ninguém aí...
elas mudaram..ela e a mãe.
Fiquei desolado...
Como ela poderia mudar assim desse
jeito sem nem avisar...?
Mas logo caí na real...Ela não tinha
mesmo como me avisar.
Então...agradeci ao vizinho...
que infelizmente
nada sabia e nem tinha o endereço dela.
Voltei para casa...bastante desanimado.
Subi...para meu quarto...
e acessei meu periscópio
em direção àquela janela que agora
permanecia fechada...
A janela dela.
E nesse dia decidi desmontar o
periscópio...
de cima do telhado,
pois ele era inútil...era apenas
uma fantasia...
apenas um sonho
e nunca mais me interessei por
aquele mar de casas.
Aqueles olhos negros...
e todos os outros olhos,
eu esqueci.
Mas sempre sinto saudades do meu
periscópio.
Foi um lindo tempo.
Lindo mesmo !!! Um mar de casas...
e um mar de olhos...
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Autor: Cássio Seagull
Prosa que fiz em 23-02-11 às 04.00 h em SP
Lua cheia - chuvas fortes - 29 graus
Beijos e abraços para você...Boa quarta.
cseagull2@hotmail.com
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