Zombaria

Sempre que eu passava, sonolento,

Pela calçada daquela rua sombrosa,

Um burro magro, amarrado e triste

Erguia a cabeça, me olhava e sorria.

Na ida e na volta, sempre o sorriso.

Até que desconfiei daquele burro,

Me olhando com os dentes a mostra.

Sorria ele para mim, ou ria de mim?

Até que certa manhã, de chuva fina,

Me dei conta que o burro pastejava

No caminho que eu fazia, obrigado,

Rumo à pequena igreja do bairro.

Me veio, então, a certeza lancinante.

O riso era de escárnio, pura zombaria.

O burro ria, solerte, da minha agonia.

Até que um dia morreu (talvez de rir).

..............................................................................................

Visite meu Blog de Prosas Poéticas e deixe seu comentário:

TERCEIRAS INTENÇÕES (http://blog-terceiras-intencoes.blogspot.com)

..............................................................................................

Luiz Vila Flor
Enviado por Luiz Vila Flor em 22/02/2011
Código do texto: T2807343