Zombaria
Sempre que eu passava, sonolento,
Pela calçada daquela rua sombrosa,
Um burro magro, amarrado e triste
Erguia a cabeça, me olhava e sorria.
Na ida e na volta, sempre o sorriso.
Até que desconfiei daquele burro,
Me olhando com os dentes a mostra.
Sorria ele para mim, ou ria de mim?
Até que certa manhã, de chuva fina,
Me dei conta que o burro pastejava
No caminho que eu fazia, obrigado,
Rumo à pequena igreja do bairro.
Me veio, então, a certeza lancinante.
O riso era de escárnio, pura zombaria.
O burro ria, solerte, da minha agonia.
Até que um dia morreu (talvez de rir).
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