SERIAL KILLER DAS PALAVRAS
Amasso o cabelo deitado...
O travesseiro vai atravessado
No meio das coxas, de viés...
O silêncio come até o marulho
Das vagas no cimento
Os carros passam as rodas
Sobre os meus pés
Os motoristas não percebem
Não sabem das suas barbeiragens
Contra os meus supostos dedos...
E mais as bicicletas e suas pernas rodando
Passando em trancos no meio das poças
Espirrando bostas...
Merda, que merda...
(Faz tempo que não escrevo “merda”)
Porra. É uma merda mesmo...
Nem na cama mais estou, faz tempo...
Vou, troto feito um cavalo manco,
O meu corpo enrijeceu
E o antigo ser que era eu, já voou, se escafedeu...
Sobrepujou baixo os tetos dos casarios,
Os esculachos do vizinho no próprio filho
Que ouço daqui e fico sem jeito de ouvir
Mesmo sem ninguém saber... Mas eu sei... Eu sei...
Por mim dava uma porrada na cara daquele babaca
Mas o que é melhor para mim, para o moleque?
Bater nele seria puro egoísmo, mas seria bom...
E verso o momento só com as raspas da mente
Do ser refratário que sobrou
Desgraça de cabeça estagnada...
Vou em frente, ando, ando
Circulo as minhas idéias de mãos dadas
As mesmas porcas e parcas idéias
Um bando de pistoleiras
Vou rindo e atirando nelas:
Metendo bala... e bala... pow! pow!
...criando e matando a poesia que não se resolve
Sai! Morre! Quero tudo para debaixo da terra...
Era só isso o que me faltava
Agora sou também um serial killer das palavras
Vai ver sempre fui...
Merda. Glória seja, se matar for minha vocação.